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Até onde vai o dólar após passar de R$ 4,00?

Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
Imagem: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Josué Leonel

22/09/2015 13h03

(Bloomberg) -- Esperado por muitos analistas, o rompimento da barreira de R$ 4 pelo dólar aconteceu logo na abertura dos negócios da última terça-feira (22), diante de receios de que a crise política inviabilize o ajuste fiscal e aumente o risco do Brasil em meio a um cenário de alta instabilidade no mercado internacional.

A pergunta, agora, é: qual o limite desta alta do dólar, que vem ocorrendo gradualmente desde 2011 e se acelerou nos últimos meses?

O dólar já subiu cerca de 140% desde o início do 1º mandato de Dilma, quando os investidores ainda não tinham perdido a confiança na presidente e turistas brasileiros faziam a festa em Miami e Nova York com o real forte.

A alta começou a se acelerar com a reeleição da presidente e ganhou novo ímpeto a partir de maio deste ano, quando começaram a ficar mais claras as dificuldades do governo em reverter o déficit fiscal, que culminaram com a perda do grau de investimento pela S&P.

A alta do dólar está exagerada se for levada em conta a pesquisa Focus, feita pelo Banco Central com cerca de cem economistas de bancos e consultorias.

Na pesquisa desta semana, a mediana das estimativas ainda apontava dólar a R$ 3,86 no final do ano. Embora o dólar já esteja bem acima deste nível, nada, em tese, impede a moeda de recuar e fechar no nível projetado pelos economistas. Mas não é o que alguns analistas mais agressivos pensam.

Em piora 'extrema', dólar pode chegar a R$ 5

Bernd Berg, estrategista do banco francês Societé Générale, considera que a alta do dólar pode se acelerar se o Congresso derrubar os vetos de Dilma, aumentando projeção de gastos públicos e tornando praticamente inevitável um novo rebaixamento da nota de crédito.

Em uma piora "extrema" do cenário político, ele vê o dólar chegando a R$ 5, embora ainda mantenha uma previsão mais "moderada", de dólar a R$ 4,40 em 4 semanas.

O impacto da crise política sobre a tendência para o dólar é praticamente unânime entre analistas do mercado. Enquanto não tivermos algum tipo de visão de como será o cenário político no médio prazo, dólar não deve se acomodar. Cena política responde a 100% do movimento", diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos.

Para ela, o BC está "amarrado" e, mesmo que volte a subir os juros, não vai segura o câmbio.

Dólar está acima do nível de equilíbrio, dizem analistas

Alguns analistas consideram que o dólar a R$ 4 já está acima do chamado "nível de equilíbrio", suficiente para melhorar as contas externas do país. No entanto, o câmbio tem sempre o risco de ficar acima ou abaixo destes níveis, em movimentos conhecidos como "overshooting".

Mark McCormick, estrategista do Credit Agricole em Nova York não vê alívio para o real no curto prazo. Para ele, não se pode descartar um dólar a R$ 4,50 em seis a nove meses se o desempenho do PIB seguir fraco, a política fiscal se deteriorar e o Brasil ser rebaixado novamente.

Dólar alto ameaça inflação

E se o dólar subir mais, qual o problema? Além de aumentar o custo da dívida de empresas que captaram recursos no exterior, a desvalorização do real traz ameaça à inflação.

Até agora, o próprio BC tem ponderado que, diante da recessão, o repasse do dólar para os preços tem sido limitado. Contudo, economistas consideram que este repasse pode deixar de ser limitado se o dólar atinge níveis ainda maiores.

Em agosto, com o dólar a R$ 3,50, o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, disse que o dólar estava "esticado". O desempenho do câmbio deste então sugere que o mercado não concorda com o diretor.

Analistas veem pouca intervenção do BC

Analistas ainda não veem o BC usando reservas para conter a alta do dólar, dado que isso significaria comprometer um dos poucos fundamentos que não se deterioram nos últimos anos. Para Berg, do SocGen, o BC só vai usar as reservas se o dólar subir muito mais e isso começar a trazer riscos para a estabilidade do sistema financeiro.

O dólar voltou hoje ao nível de R$ 4, visto nas vésperas da 1º eleição de Lula, quando o mercado temia que o petista alterasse a política econômica. A alta do dólar foi revertida quando Lula sinalizou que a mudança não viria.

A diferença, hoje, é que a alta do dólar não se deve ao receio da mudança, mas sim aos efeitos da mudança de política econômica que já ocorreu nos últimos anos, com metas fiscais e de inflação não sendo cumpridas e o BC intervindo no câmbio. E reverter estas mudanças está mais difícil do que se pensava.

(Com a colaboração de Patrícia Lara e Paula Sambo, em São Paulo)