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Pequeno, Banco Máxima quer avançar em crédito imobiliário em meio a crise econômica

Filipe Pacheco

26/10/2015 14h16

(Bloomberg) -- Este pode parecer ser o pior momento para se ampliar empréstimo imobiliário no Brasil.

A maior economia da América Latina tem sofrido com a recessão mais longa em 25 anos e também com uma crise política que poderá levar ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Somando-se a isso as taxas de juros mais elevadas desde 2006, não é surpreendente o avanço de índices de inadimplência para patamares recorde.

Mas o Banco Máxima SA -- 88o maior banco do país em ativos totais -- enxerga uma oportunidade em meio ao cenário desolador. Isso porque o cenário difícil está fazendo o maior concessor de crédito imobiliário, a Caixa Econômica Federal, recuar. A retração do banco estatal está criando uma brecha para outros que antes tinham poucas chances de competir com o gigante, disse Saul Sabbá, sócio fundador do Banco Máxima, que tem sede em São Paulo. Ele pretende triplicar a carteira de empréstimos do banco para R$ 500 milhões (US$ 129 milhões) até o fim do ano.

Esse valor ainda estaria bastante abaixo da carteira de R$ 367 bilhões da Caixa. O banco com sede em Brasília controla cerca de 70 por cento do mercado de empréstimos imobiliários do Brasil, fornecendo crédito subsidiado. A instituição elevou as taxas de juros três vezes neste ano, o que ajudou a motivar uma queda de 43,3 por cento na originação de hipotecas no período de 12 meses até agosto, segundo os últimos dados compilados pela Abecip, uma associação de credores imobiliários.

"Queremos os clientes que eles já não estão atendendo", disse Sabbá. "Quando a Caixa era agressiva em novos empréstimos, como nos últimos anos, era difícil para os players menores competir com suas taxas subsidiadas. Agora há uma janela, temos que abordar os clientes aos quais não tínhamos acesso antes".

A iniciativa do Banco Máxima pode ser vista como "bastante arriscada", disse Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças da Faculdade de Negócios Insper, com sede em São Paulo. Os economistas estimam atualmente que a recessão do Brasil se estenderá até o ano que vem. A crise já levou a taxa de desemprego do país ao nível mais alto em cinco anos, tornando mais difícil para os brasileiros manter os pagamentos de suas dívidas.

O número de indivíduos e companhias inadimplentes subiu para um recorde de 61,2 milhões no fim de agosto, segundo a Serasa Experian, uma empresa de classificação de crédito com sede em São Paulo. A dívida enquanto porcentagem da renda familiar total também atingiu o nível mais elevado já registrado, de 45,8 por cento em junho, contra 18,5 por cento em 2005, com base nos dados mais recentes do Banco Central. Tudo isso significa que os consumidores poderão não ter muito interesse em tomar mais empréstimos.

"Em um cenário tão duro", as instituições financeiras que estão tentando ganhar participação de mercado deveriam analisar os novos clientes cuidadosamente para evitar "surpresas ruins", disse Rocha.

Sabbá disse que seu banco vem realizando uma análise de crédito detalhada dos indivíduos que buscam tomar novos empréstimos. Além disso, o Banco Máxima não financia mais de 50 por cento do valor total da compra. A instituição projeta que sua taxa de inadimplência crescerá para cerca de 2 por cento dos empréstimos totais até o fim do ano.

"Nós acreditamos que a inadimplência poderá crescer marginalmente, mas não significativamente", disse Sabbá.

No dia 27 de agosto, a Caixa informou que sua taxa de inadimplência em crédito imobiliário subiu para 1,93 por cento no segundo trimestre, após uma alta de dois anos de 1,97 por cento no primeiro trimestre. O banco oferece empréstimos imobiliários com taxas de juros de apenas 5 por cento ao ano para famílias de baixa renda por meio do programa "Minha Casa, Minha Vida". A taxa de juros hipotecária média do Banco Máxima está em torno de 22 por cento ao ano.

Em sua tentativa de atrair novos clientes, o Banco Máxima criou um canal no YouTube e lançou um site com o domínio "queroumemprestimo.com.br".

"A Caixa ainda é o player mais importante do mercado de hipotecas no Brasil e isso não mudará tão cedo", disso Marcelo Prata, fundador da empresa de consultoria Canal do Crédito, em São Paulo. "Mas em épocas de condições de crédito mais restritas, bancos de médio porte como o Máxima têm maior flexibilidade para se adaptar às regras e ser mais dinâmicos".

Título em inglês: Tiny Brazilian Bank Is Taking on Mortgage King as Economy Sinks

Para entrar em contato com o repórter: Filipe Pacheco, em São Paulo, fpacheco4@bloomberg.net.