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Crise na China sacode investidores brasileiros em época de folga

Ben Bain, Paula Sambo e Filipe Pacheco

11/01/2016 12h02

(Bloomberg) -- Para investidores no Brasil, traumatizados com um 2015 terrível, não havia motivos para acreditar que janeiro seria um momento de respiro. Com as férias de verão no auge e o Congresso em recesso, o momento era de uma pausa na evolução dos escândalos políticos que deixaram os mercados agitados.

E aí veio a China.

Com a turbulência no maior parceiro comercial do Brasil, o Ibovespa caiu 8,2% em dólares neste ano, na pior semana em quase seis meses, e as ações das produtoras de commodities despencaram com as matérias-primas sendo negociadas no nível mais baixo em mais de uma década.

A moeda subiu para mais de R$ 4 por dólar, retornando a níveis vistos logo depois que a S&P surpreendeu o mercado ao tirar o selo de bom pagador do Brasil, em setembro.

Agora as ações da maior economia da América Latina estão novamente sendo mais punidas que as de seus pares emergentes, aumentando as perdas de investidores que já haviam sido punidos durante cinco anos consecutivos de declínios do Ibovespa.

A piora da desaceleração na China está apenas tornando mais difícil para o Brasil sair de sua pior recessão em mais de um século em meio a uma inflação e a um déficit fiscal crescentes e a movimentações focadas no impeachment da presidente, que estão tornando a situação ainda mais caótica.

"O cenário não é nada bom", disse Maarten-Jan Bakkum, estrategista de mercados emergentes da NN Investment Partners em Haia, que administra cerca de US$ 206 bilhões.

"Estou muito preocupado com as pressões externas sobre o Brasil, as fracas respostas do governo e a situação política, que torna difícil uma solução rápida. A China continuará desacelerando, a liquidez global vai se apertar e o Brasil tem tido políticas econômicas ruins por muito tempo".

A queda de 15% das ações chinesas neste ano em meio à confusão a respeito dos procedimentos de "circuit breaker" e das apostas em uma moeda mais fraca reativou o temor sobre a capacidade do Partido Comunista de gerenciar uma economia que deverá crescer ao ritmo mais lento desde 1990.

As exportações do Brasil para a China totalizaram US$ 35,6 bilhões em 2015, cerca de 19% dos produtos totais enviados ao exterior, segundo dados do governo.

O impacto da crise da China não se restringe ao Brasil, é claro. As ações dos EUA encerraram a pior semana desde setembro de 2011, enquanto apenas cinco entre 24 moedas de mercados emergentes se valorizaram em relação ao dólar.

Inflação e recessão

Mas para o Brasil a questão da China surge em um momento em que o país se encontra tomado por seus próprios problemas. A inflação atingiu o nível mais alto em 12 anos em dezembro, mais de duas vezes a meta do Banco Central.

Analistas estimam uma contração econômica de 3,73% em 2015, seguida de um recuou de 2,99% em 2016. A recessão se aprofunda em um momento em que algumas das maiores empresas do país são envolvidas no maior caso de corrupção da história do Brasil, o que também piora a crise política, dado que parlamentares do alto escalão passaram a ser investigados.

Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff luta por sua sobrevivência política depois que o Congresso iniciou o processo de impeachment, em dezembro. A presidente e seus adversários estão atualmente paralisados com o STF e o Congresso em recesso até 2 de fevereiro.

"É um pouco clichê dizer isso a esta altura, mas esta é realmente a tempestade perfeita", disse Marianna Waltz, diretora do grupo de finanças corporativas da Moody's Investors Service em São Paulo.

"A desaceleração na China atinge o Brasil em cheio. No Brasil, há produtoras de commodity e empresas com foco doméstico e no momento todas elas provavelmente estão com problemas, e não vemos uma melhora nisso", disse.