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Agências europeias reagem a escassez de bonds causada por QE

14/01/2016 16h24

Lukanyo Mnyanda (Bloomberg) - As agências de dívidas da zona do euro estão tomando medidas para resolver um problema cuja existência é negada pelas autoridades de política econômica.

As autoridades do Banco Central Europeu dizem que as aquisições mensais de cerca de 1 por cento dos bonds pendentes não comprimiram o mercado, mas as vendas de títulos off-the-run feitas por alguns dos maiores emissores da região sustentam o contrário.

A AFT da França, que aumentou a proporção de vendas desses títulos, que não são de referência, para 33 por cento no ano passado, a maior taxa desde 2011, disse que as reaberturas da dívida menos negociada ajudam "a preservar a liquidez ao longo da curva inteira". A Alemanha planeja vender mais de um título off-the-run com vencimento em julho de 2044 neste ano, disse a Agência de Finanças do país no mês passado.

"Quanto mais tempo a QE continuar, mais visível será o impacto de distorção, e pode-se abordar isso mediante essa emissão off-the-run", disse David Schnautz, diretor de estratégia para taxas do Commerzbank, que atua como primary dealer na França e na Alemanha.

Advertências

Em dezembro, o plano de QE foi prolongado seis meses, até março de 2017, pois os funcionários do BCE tinham dificuldades para impulsionar uma taxa de inflação que têm se mantido quase zerada. O programa desafiou as advertências de que isso reduziria a liquidez, o que significa que pedidos menores deslocariam de fato os preços.

O diretor da seção de mercados de bonds da zona do euro do BCE, Ralph Weidenfeller, disse em novembro que por enquanto o banco não tinha tido nenhum problema para comprar a quantidade de bonds pretendida e o presidente Mario Draghi disse um mês depois que "há uma boa oferta de bonds para comprar".

Mesmo assim, os investidores continuam preocupados de que a nova injeção de 1,5 trilhão de euros (US$ 1,6 trilhão) no Eurossistema possa reduzir a quantidade de bonds disponíveis livremente para o restante do mundo dos investimentos. Aí é quando os títulos que não são de referência se tornam úteis.

Os bonds de referência se transformam em off-the-run quando são substituídos por um novo título similar com um tamanho suficiente. Emitir quantidades maiores dos bonds mais antigos, que tendem a ser negociados com menos frequência e, no ambiente atual, tendem a negociar um cupom mais alto, ajudam a expandir o universo de valores disponíveis para os bancos centrais nacionais, que realizam a QE. Eles têm um limite máximo de compra de 33 por cento de qualquer emissão de bonds. Um bond de referência geralmente é o mais líquido e operável para um vencimento determinado e é usado como padrão para avaliar a performance de outros valores.

Escassez

As aquisições da QE foram retomadas neste mês após uma pausa nas festas de fim de ano que desacelerou o aumento dos ativos de dívida dos setores público e privado para 50,3 bilhões de euros durante dezembro, em comparação com a meta mensal de 60 bilhões de euros. Não parece haver escassez de bonds do governo "nesta etapa", escreveu Nishay Patel, estrategista de renda fixa do UBS Group em Londres, em uma nota para clientes no dia 5 de janeiro.

Isso poderia mudar. Antigos temores em relação a bonds cada vez mais escassos e preços voláteis poderiam voltar - especialmente se o programa for expandido para combater uma inflação fraca e porque os governos da zona do euro continuam tomando cada vez menos préstimos.

Peter Chatwell, diretor de estratégia de taxas da Mizuho International em Londres, disse que o fato de haver países que tomam créditos em uma faixa mais ampla de emissões "dá aos investidores a flexibilidade para escolher e sentir confiança na liquidez". Ele disse que existe uma exigência de que os gerentes de fundos tenham os bonds mais líquidos em seus mandatos e que as agências de dívida dos governos também não gostam da iliquidez. "O emissor quer conseguir emitir com o yield mais baixo possível e deseja ter a curva mais suave possível".

Título em inglês: ' Here's How Debt Chiefs Deal With QE's Non-Existent Bond Scarcity '

Para entrar em contato com o repórter: Lukanyo Mnyanda, em Edimburgo, lmnyanda@bloomberg.net

Tradução: Santiago FarrellRevisão: Adelina Chaves