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Exxon terá que esperar petróleo do Irã e europeias aproveitam

Joe Carroll e David Wethe

15/01/2016 10h13

(Bloomberg) -- As exploradoras de petróleo dos EUA ficarão de fora do próximo grande negócio, pois o fim das sanções nucleares abrirá os vastos campos do Irã para suas concorrentes britânicas, francesas e italianas.

Quando terminar a década de restrições comerciais e bancárias aplicadas ao país produtor de petróleo do Golfo Pérsico, talvez na segunda-feira, as oportunidades para investir nos campos que guardam quase 10 por cento das reservas conhecidas de petróleo do planeta atrairão a atenção. A BP, a Royal Dutch Shell, a Total e a Eni disseram que estão prontas para se lançarem sobre o negócio. As novas exportações poderiam render cerca de US$ 5 bilhões por ano.

Norte-americanas pesos-pesados como a Exxon Mobil e a Halliburton provavelmente terão que esperar -- e poderão perder completamente as chances por causa das sanções unilaterais impostas por Washington para punir o Irã por seu envolvimento com o terrorismo e com o desenvolvimento de mísseis. Essas proibições permanecerão em vigor apesar do acordo nuclear.

"Nenhum cidadão americano tem permissão para se envolver no setor petrolífero iraniano", disse Patrick Clawson, diretor da Iniciativa de Segurança para o Irã da think tank Washington Institute. "E também não se pode usar o dólar americano. Todas as empresas petrolíferas americanas com um CEO ativo devem esquecer isso".

A Agência Internacional de Energia Atômica deverá informar até esta sexta-feira que o Irã cumpriu os compromissos firmados sob o acordo do ano passado com EUA, China, França, Alemanha, Reino Unido e Rússia, disse o vice-ministro de Relações Exteriores da república islâmica, Abbas Araghchi, em 13 de janeiro. Isso prepararia o cenário para um anúncio de fim das sanções no fim de semana, disse ele.

Petróleo inexplorado

O Irã disse que é capaz de bombear um total adicional de 500.000 barris por dia, que ingressariam nos mercados internacionais, mas alguns observadores dizem que o país poderá adicionar apenas 400.000 barris seis meses após o fim das sanções.

Para as exploradoras e as empresas de serviços das quais eles dependem para a perfuração dos poços, o Irã representa uma enorme fonte de riqueza. A reserva de 157,8 bilhões de barris de petróleo inexplorado do país do Golfo Pérsico representa mais de quatro vezes o total dos EUA, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA, em Washington. O país ostenta também grandes reservas de gás natural.

"Os americanos estão em desvantagem aqui", disse Dan Newcomb, advogado que assessora empresas de petróleo e bancos sobre sanções internacionais para a Shearman Sterling, em Nova York, em entrevista por telefone. "Se os iranianos são belicistas como dizem alguns, por que mantemos nossa postura enquanto os europeus aproveitam a oportunidade?".

Scott Silvestri, porta-voz da Exxon, preferiu não comentar, assim como Emily Mir, porta-voz da Halliburton, empresa com sede em Houston.

Cortes nos investimentos

O retorno do Irã coincide com a expectativa de que o setor reduzirá os investimentos pelo segundo ano consecutivo, de 15 por cento neste ano, para US$ 444 bilhões, após um declínio de 23 por cento em 2015, segundo o Barclays.

Embora as sanções dos EUA permitam que as subsidiárias americanas operem no Irã, elas exigem uma separação desses projetos em relação aos funcionários e escritórios americanos, disse Clawson. Isso significa que um departamento de planejamento em engenharia em Houston, por exemplo, não pode auxiliar equipes de campos no Irã.

As empresas que colocam cimento nos campos e instalam aparelhos de controle de pressão podem ser tentadas a criar estruturas internas e controles complicados para atender os órgãos que aplicam as sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, disse James West, analista da Evercore em Nova York, em entrevista por telefone. O motivo é que o Irã tem planos para investir mais de US$ 10 bilhões por ano para melhorar sua produção de petróleo e gás natural.

Contudo, o risco pode ser alto demais para os executivos americanos, especialmente porque eles poderiam ser forçados a sair do Irã e deixar investimentos para trás se o acordo nuclear for violado e as sanções forem impostas novamente, disse West.