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Gigantes do petróleo começam a perder proteção do refino

Rakteem Katakey e Firat Kayakiran

19/01/2016 10h08

(Bloomberg) -- Os lucros do refino que reforçaram os ganhos da Exxon Mobil e da Royal Dutch Shell em meio à queda dos preços do petróleo bruto agora estão caindo, pressionando ainda mais todas as grandes empresas petrolíferas do mundo em 2016.

As margens de refino globais, que são o lucro estimado da transformação do petróleo em gasolina e diesel, caíram 34 por cento no quarto trimestre, declínio mais agudo em oito anos, para US$ 13,20 o barril, mostram dados do site da BP. Cada queda de US$ 1 reduz os lucros ajustados antes de impostos em US$ 500 milhões ao ano, segundo o site da empresa.

As empresas enfrentam um aperto nos lucros com o processamento no momento em que o inverno ameno limita a demanda por combustível para aquecimento e diesel, criando enormes estoques nos EUA e na Europa. Trata-se de uma reversão em relação aos dois últimos anos, período no qual os lucros com refino se duplicaram, eliminando uma das proteções restantes das gigantes petrolíferas integradas que lidam com os menores preços do petróleo em 12 anos.

"De certa forma trata-se de um golpe duplo, pois os preços do petróleo estão mais baixos e as margens de refino começam a enfraquecer", disse Iain Reid, analista da Macquarie Capital em Londres. "A rede de proteção ainda está lá, mas há alguns buracos nela agora".

Nos últimos 30 dias, os analistas reduziram suas projeções de lucro ajustado por ação para o quarto trimestre de 2015 e para o primeiro trimestre de 2016 das empresas Exxon, Shell, Total, Eni, Statoil e Repsol, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A queda de mais de 70 por cento do petróleo nos últimos 18 meses resultou em 250.000 postos de trabalho perdidos no setor em todo o mundo e em mais de US$ 2,7 trilhões em valor de mercado eliminado das empresas petrolíferas, um montante que quase se iguala ao produto interno bruto da França. Mais problemas podem estar a caminho porque o petróleo está ampliando sua queda para menos de US$ 30 e as margens de refino continuam encolhendo.

Lucros da Exxon

O lucro líquido da Exxon com refino e com a venda de combustíveis dobrou para US$ 2 bilhões no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, superando os lucros da produção de petróleo e gás pela primeira vez em pelo menos 15 anos. O lucro líquido ajustado de US$ 2,6 bilhões da Shell com refino e comercialização ajudou a empresa a informar lucro após um prejuízo de US$ 425 milhões com exploração e produção.

No caso das refinarias europeias, o lucro médio da produção de gasóleo, o combustível mais comum, foi de US$ 9,50 por barril acima do petróleo de referência Brent em dezembro, o menor para essa altura do ano desde 2010, mostram dados da ICE Futures Europe. As margens de refino no noroeste da Europa atingiram o menor valor em dois anos no quarto trimestre, de US$ 10,90, disse a BP. Esses lucros são muitas vezes chamados de crack spreads, uma medida aproximada dos lucros com base na diferença entre o preço do combustível e o do petróleo bruto.

Resultados da Shell

A Shell, que deverá divulgar os lucros provisórios do quarto trimestre em 20 de janeiro e os resultados completos em 4 de fevereiro, e a BP e a Exxon, que deverão lançar seus relatórios em 2 de fevereiro, preferiram não comentar. A Chevron, que deverá divulgar seus lucros em 29 de janeiro, e a Eni, que liberará seus resultados em 26 de fevereiro, também preferiram não comentar.

A Total, que divulgará seu relatório em 11 de fevereiro, não respondeu aos e-mails em busca de comentários sobre o impacto do encolhimento das margens de refino.

Embora as margens de refino sejam normalmente mais baixas de outubro a dezembro, a queda no último trimestre foi significativa para as empresas porque veio acompanhada do declínio nos preços do petróleo. O óleo Brent, uma referência internacional, caiu 23 por cento nos três meses, registrando o preço médio mais baixo desde o início de 2009. Na terça-feira, os preços se recuperaram em relação ao nível mais baixo em mais de 12 anos, chegando a subir US$ 0,55, para US$ 29,10 o barril, na bolsa ICE Futures Europe, em Londres.