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Petróleo barato mantém excesso de oferta no setor de metais

Agnieszka de Sousa

19/01/2016 13h29

(Bloomberg) -- O colapso dos preços do petróleo e do carvão não é uma notícia ruim apenas para o setor de energia. Ele está agravando também o excesso de oferta de metais em todo o mundo.

Os minerais são extraídos com escavadoras e caminhões com motor a diesel e as fundições que processam o metal são movidas a eletricidade gerada por usinas à base de carvão. A energia responde por até um terço dos custos do setor em um momento em que tudo, do alumínio ao zinco, está atolado em uma queda prolongada e mais minas estão perdendo dinheiro. Com uma baixa de cerca de 70 por cento nos preços do petróleo nos últimos dois anos, que chegou a menos de US$ 30 por barril, o combustível mais barato está permitindo que as empresas de metais adiem os cortes de produção necessários para conter sua própria queda nos preços.

"Existe uma conexão incrivelmente poderosa entre os metais de base e os preços do petróleo", disse Dan Smith, analista de commodities da Oxford Economics em Londres. "Se o petróleo cair para menos de US$ 20 ou ainda mais fundo, redundará em metais a preços mais baixos. A curto prazo, as coisas parecem bastante difíceis".

A maior queda das commodities em sete anos tem forçado empresas mineradoras como a Glencore a cortar custos operacionais e produção, a vender ativos e ações e a reduzir sua dívida. A BHP Billiton e a Rio Tinto Group, as duas maiores produtoras, disseram em agosto que os custos menores com energia ajudavam nos lucros, assim como as moedas desvalorizadas nos países onde as empresas operam minas. Desde então, o petróleo Brent caiu cerca de 50 por cento.

A energia é a maior despesa única do processo de mineração, segundo a Macquarie Group. Representa cerca de 16 por cento do que o setor gasta em média para produzir cada tonelada de cobre e cerca de 35 por cento no caso do alumínio, segundo a Macquarie. A queda do petróleo e a alta do dólar em relação a moedas como o peso chileno e o kwacha da Zâmbia reduzirão os custos das minas de cobre em cerca de 11 por cento em 2016, estima a empresa de pesquisas CRU Group, com sede em Londres.

Queda da energia

O carvão, que gera cerca de 41 por cento da eletricidade do mundo, registra o preço mais barato desde 2007, pelo menos, na Europa, onde a oferta é ampla. O petróleo bruto ficou abaixo de US$ 30 na semana passada pela primeira vez em mais de uma década no momento em que o Irã se aproximava de um aumento em suas exportações, coincidindo também com a desaceleração do crescimento econômico global. Os preços europeus do diesel, um produto refinado à base de petróleo que oscila quase em sincronia com o petróleo bruto, são os mais baixos em 11 anos.

Novos declínios no preço da energia não resolverão o problema do setor de metais a longo prazo. Enquanto a desaceleração econômica da China reduz a demanda, as empresas de mineração aumentaram sua capacidade de produção depois de anos de investimentos após uma expansão anterior das commodities. Os custos mais baixos podem ajudar, mas não contribuem para a diminuição do excesso de oferta.

"Ainda precisamos de mais cortes na maioria dos metais", disse Colin Hamilton, chefe de pesquisa de commodities da Macquarie.

A BHP também foi atingida pela queda do petróleo. A empresa disse na sexta-feira que realizará uma baixa contábil de US$ 4,9 bilhões no valor de seus ativos nas formações de xisto dos EUA. As ações caíram 43 por cento nos últimos 12 meses em Sydney.

A alta do dólar, moeda usada para negociar metais internacionalmente, também gerou um alívio para as empresas mineradoras que pagam funcionários e compram equipamentos em moeda local. O real brasileiro, o rand sul-africano, o rublo russo e o peso chileno estão entre as moedas com o pior desempenho no ano passado.

Título em inglês: 'Oil Claims Another Victim as Cheap Fuel Keeps Metals Glut Going'

Para entrar em contao com o repórter:

Agnieszka de Sousa, em Londres, atroszkiewic@bloomberg.net.

Tradução: Samuel Rodrigues Revisão: Sílvia Ornelas