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Venezuela pode ter dificuldade para honrar dívidas, diz Barclays

Sebastian Boyd

21/01/2016 09h53

(Bloomberg) -- Com a queda dos preços do petróleo e a inflação galopante que assola a economia da Venezuela, o presidente Nicolás Maduro está solicitando poderes emergenciais para promover mudanças nas políticas. Talvez seja tarde demais, segundo o Barclays.

O país sul-americano terá dificuldades para conseguir o dinheiro necessário para honrar US$ 4,5 bilhões em pagamentos de bonds estrangeiros neste ano depois que o preço de seu petróleo caiu 75 por cento desde 2014, para o nível mais baixo em 13 anos, disse o economista do Barclays Alejandro Arreaza em uma nota intitulada "Situação irreversível", na quarta-feira.

As notas de referência da Venezuela atingiram uma mínima recorde desde que o governo reportou suas estatísticas econômicas pela primeira vez em um ano, na sexta-feira, expondo a severidade da recessão e da espiral de inflação no país. Maduro, que sancionou um decreto emergencial que lhe concede poderes para ditar medidas econômicas, disse ao Congresso, controlado pela oposição, no dia 15 de janeiro, que tinha chegado a hora de aumentar os preços da gasolina e que buscaria ajustar as taxas de câmbio fixas do país nos próximos dias.

"O decreto de emergência econômica e qualquer medida que o governo possa tomar nesse momento podem estar chegando tarde demais", escreveu Arreaza. "Após dois anos de inação e o recente declínio dos preços do petróleo, está se tornando cada vez mais difícil evitar um evento de crédito em 2016".

Ele estima que, com os preços atuais do petróleo, a Venezuela teria que usar mais de 90 por cento de suas receitas com a exportação de petróleo bruto para pagar dívidas.

Representantes do Ministério da Informação da Venezuela não responderam aos e-mails em busca de comentários sobre o plano do país para diversificar sua base de receita ou sobre sua capacidade de pagar as obrigações internacionais neste ano.

PIB e inflação

A economia sul-americana encolheu 7,1 por cento no terceiro trimestre em relação a um ano antes, e a taxa de inflação subiu para 141,5 por cento, disse o banco central na sexta-feira.

O banco, que jogou a culpa pelos problemas econômicos da Venezuela na queda dos preços do petróleo, acusou os sites que monitoram o valor do dólar paralelo de "destruir os preços" e instalar uma forma de capitalismo "selvagem" no país. O bolívar perdeu mais de três quartos de seu valor no mercado paralelo nos últimos 12 meses.

"Os números são catastróficos", disse Maduro ao Congresso. "O espírito do decreto de emergência é gerar algum movimento para proteger as pessoas".

Chance de calote

Os US$ 4 bilhões em bonds da Venezuela que vencem em 2027 caíram para 33,32 centavos de dólar na quarta-feira, nível mais baixo desde sua venda, em 1997. Os traders de swaps de crédito estão precificando uma chance de 79 por cento de o país não honrar um pagamento nos próximos 12 meses.

Maduro, sucessor escolhido a dedo pelo falecido Hugo Chávez, tem relutado em subir os preços da gasolina porque a escassez de todo tipo de produto, desde alimentos até medicamentos, o tornam cada vez menos popular. Na Venezuela, a gasolina custa 0,097 bolívar por litro e é a mais barata do mundo. Pela taxa de câmbio oficial, a Simadi, 10 galões (37,8 litros) custam US$ 0,02.

"Tudo que ele fizer agora será insuficiente", disse Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa da Nomura para a América Latina.