Katherine Rivas

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Reportagem

Veja seis empresas para ganhar dividendos e se proteger da inflação

Quando o investidor compra uma ação com foco em dividendos, geralmente ele escolhe papéis de empresas perenes, cujas receitas e lucros costumam crescer acima da inflação. Contudo, esta não é uma garantia de que ele estará automaticamente protegido contra a alta nos preços.

O que vai determinar essa proteção diante da inflação é o segmento em que a empresa está inserida ou até mesmo a capacidade da companhia de repassar o aumento do preço dos seus produtos, ou serviços aos consumidores sem ter a sua demanda afetada.

Mas existem alguns setores na bolsa de valores que garantem que o investidor fique protegido da inflação e ainda receba dividendos de forma constante. São os setores regulados ou de utilidade pública que costumam ter contratos reajustados por índices inflacionários.

Um deles é o segmento de transmissão de energia. As empresas neste setor costumam ter concessões de longo prazo (geralmente 30 anos) cujas receitas são corrigidas por índices inflacionários como o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ou o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.

Estas empresas são remuneradas pela disponibilidade das linhas de transmissão e não pela quantidade de energia que circula pelas linhas, em consequência a variação de demanda não impacta as receitas, segundo Biz. O investidor que aloca seus recursos no segmento de transmissão acaba se protegendo da inflação por esta dinâmica.

Outra alternativa é o setor de saneamento, que também possui reajustes tarifários pela inflação. No entanto, apresenta mais volatilidade nos dividendos do que o segmento de transmissão, afirma Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest.

O motivo é que o setor tem metas de universalização dos serviços de água e esgoto, que acabam requerendo investimentos e aumento de dívida. "É um setor previsível, com uma dose de imprevisibilidade", avalia Saravalle.

Além disso, companhias de saneamento já foram expostas no passado a 'canetadas' do governo, que segurou os reajustes tarifários. A possibilidade disso se repetir sempre está presente, mas Saravalle lembra que muitas vezes as companhias acabam fazendo reajustes posteriores ou trocando estes por mais anos de concessão. Afinal, por ser um setor regulado, estes reajustes inflacionários precisam acontecer de uma forma ou outra.

Embora estes segmentos reúnam estas características de proteção contra inflação, analistas reforçam que generalizar poder ser um erro. A melhor opção é olhar as companhias que integram estes segmentos com detalhe, isso porque algumas podem estar mais focadas em investir do que pagar dividendos. Há também empresas que não pertencem a estes setores, mas pelo seu modelo de negócio têm capacidade de repassar a inflação e proteger os seus investidores. Veja abaixo algumas delas:

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Dentro dos setores regulados:

Isa Cteep (TRPL4)

Dentro do setor de transmissão, analistas citam a Isa Cteep (TRPL4). Segundo estudo feito por Bruno de Oliveira, analista CNPI do Projeto Vida de Acionista, em 2017 o lucro líquido da companhia era de R$ 600 milhões e em 2023 chegou ao patamar de R$ 1,9 bilhão. Se fosse reajustado pela inflação do período, o lucro líquido deveria ser de R$ 860 milhões. Ou seja, a companhia conseguiu crescer muito mais do que a inflação.

Neste período, ela também manteve sua política de distribuição de proventos, de 75% do lucro líquido regulatório.

Na Isa Cteep, 90% dos contratos são corrigidos pelo IPCA, o que faz com que o investidor esteja muito bem protegido da inflação, reforça Oliveira.

Para o analista, contudo, a empresa poderia não ser a primeira opção para quem está montando uma carteira do zero, dado que remunera os seus investidores apenas uma vez ao ano. Ele projeta que o próximo provento anunciado no segundo semestre seja um juro sobre capital próprio de R$ 1,74 por ação. O dividend yield projetado para os próximos 12 meses é de 7%.

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Felipe Reis, estrategista da EQI Research, projeta um dividend yield de 7,8% para Isa Cteep nos próximos 12 meses. Ele destaca que a companhia é líder em transmissão de energia, com uma participação de mercado de aproximadamente 30% e ativos em dezoito estados do país.

Alupar (ALUP11)

Outra empresa dentro do setor de transmissão que protege o investidor da inflação é a Alupar (ALUP11), companhia privada que possui operações no Brasil, Chile, Peru e Colômbia. Atualmente a Alupar conta com 7100 km de linhas operacionais e outros 2200 km de linhas em implantação.

Biz, do GuiaInvest, aponta que a receita total da Alupar é 65% corrigida pelo IPCA e 35% pelo IGP-M. Além disso, a companhia também opera com ativos de geração de energia com contratos reajustados pela inflação. "A Alupar oferece ao investidor um fluxo de caixa estável e previsível, importante para quem busca geração de renda recorrente com proventos", afirma. O dividend yield projetado para ALUP11 em 2024 é de 6,2%.

Sanepar (SAPR11)

Ainda dentro dos setores regulados, Saravalle indica a Sanepar (SAPR11). Ele destaca que a companhia pode receber o pagamento de um precatório de R$ 3,9 bilhões em 2025, que se traduziria em dividendos extraordinários. Atualmente, o valor de mercado da empresa é de R$ 7,98 bilhões.

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O montante, contudo, ainda depende de aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025, que pode acontecer em agosto ou setembro, segundo Saravalle. O analista estima que com o precatório, o dividend yield da Sanepar possa chegar a 15% ou 20% em 2025.

Atualmente o dividend yield da companhia para os próximos 12 meses é entre 8,5% e 9%, sem considerar o efeito do precatório.

Pelo seu modelo de negócios:

Banco do Brasil (BBAS3)

Fora dos setores regulados também há companhias que pelo seu modelo de negócios conseguem proteger o investidor da inflação.

Um deles é o Banco do Brasil (BBAS3). Segundo estudo de Oliveira, em 2017 o lucro líquido ajustado do banco era R$ 11 bilhões. Ajustado pela inflação a valores presentes, ele deveria representar uns R$ 15 bilhões. No entanto, em 2023 o luco da empresa foi de R$ 33 bilhões. Desta forma, a companhia não apenas superou a inflação como dobrou o ganho.

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"Por mais que o Banco do Brasil fique exposto a diversas variáveis macroeconômicas, regionais, internas e externas, a competência dele mostra que o investidor está protegido da inflação", destaca Oliveira.

Segundo o analista, o banco consegue repassar inflação pelo forte conhecimento que tem da sua base de clientes, seja com produtos novos ou boas políticas de concessão de crédito. "Às vezes está relacionado a venda cruzada, o banco vende um serviço extra para o cliente e aumenta a rentabilidade", diz.

Oliveira lembra ainda que o Banco do Brasil remunera os investidores em oito vezes ao ano, o que traz uma boa previsibilidade de renda ao investidor.

Para Reis, da EQI, o Banco do Brasil deve crescer os lucros em cerca de 10% neste ano se comparado com 2023. Isso também deve propiciar um aumento nos dividendos. "O banco está indo bem, a carteira de crédito crescendo, lucro aumentando, inadimplência controlada e previsibilidade pela política de dividendos", avalia o analista.

Ele lembra que o banco tem com compromisso de distribuir 45% do seu lucro em proventos (payout) o que potencializa a rentabilidade da instituição.

Klabin (KLBN11)

Outra empresa que se encaixa neste perfil é a Klabin (KLBN11). A empresa costuma usar o seu ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para remunerar acionistas. Segundo cálculos de Oliveira, se observado o ebitda em 2010, este era cerca de R$ 900 milhões. Se reajustado pela inflação, deveria estar em 2023 no patamar de R$ 2 bilhões. Contudo, até 2023 este ficou em R$ 6 bilhões, ou seja, bateu a inflação em um patamar três vezes superior ao esperado.

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Segundo Oliveira, isso está relacionado a eficiência operacional da companhia, que costuma atender setores estratégicos, entre estes o de alimentício e de bebidas. Mesmo diante de inflação elevada ou crise econômica, o consumidor não para de comprar estes produtos, que por sua vez precisam de embalagens para serem transportados, uma das atividades da Klabin. "Em um cenário bom para a economia e o PIB (Produto Interno Bruto), a Klabin cresce mais. Já em um cenário ruim, ela cai menos", observa o analista. Contribui também a eficiência financeira e de alocação de capital.

Oliveira projeta um dividend yield de 4,5% para as ações KLBN11 em 2024 e 5,1% em 2025.

Metal Leve (LEVE3)

A Metal Leve (LEVE3) integra também a lista de empresas que repassam a inflação, segundo Saravalle. A fabricante de motores consegue também negociar o reajuste do seu produto com as concessionárias, embora nem sempre possa ser no patamar do IPCA.

O analista lembra ainda que por ter um controlador estrangeiro, a companhia tem como prática distribuir geralmente 100% do seu lucro em proventos aos investidores. Para os próximos 12 meses, o dividend yield esperado é de 12% no cenário pessimista e 15% no mais otimista.

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