Katherine Rivas

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Reportagem

Dividendos da Vale (VALE3): o que esperar da mineradora no 2° semestre?

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Apesar das incertezas enfrentadas pela Vale, o mercado está de olho nos dividendos robustos que serão pagos no mês de setembro. É esperado que a companhia faça o anúncio dos proventos junto à divulgação do seu balanço nesta quinta-feira (25), após o fechamento de mercado.

Historicamente, pela sua política de dividendos, a Vale distribui 30% do seu ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) menos o investimento corrente, explica Gustavo Poladian, sócio e analista de renda variável da Meraki Capital. Os pagamentos ocorrem em setembro, referentes ao resultado do primeiro semestre, e em março em relação aos resultados do segundo semestre.

Entre as projeções dos analistas para os proventos de setembro, os valores chegam a superar R$ 2 por ação.

Na Ativa Investimentos, o analista Ilan Arbetman acredita que a Vale vai pagar R$ 2,15 por ação, o que somado aos R$ 2,74 pagos em março, daria um total de R$ 4,89 por papel, equivalente a um dividend yield de 8% ao ano. Segundo Arbetman, o yield é menor do que no ano de 2023, quando a companhia entregou dividendos de 10%. Contudo, ainda é considerado um bom dividendo.

Já na Meraki Capital, a expectativa de Poladian é de dividendos um pouco menores, entre R$ 1,90 e R$ 2,00 por ação. Mas, para o ano de 2024, o dividend yield projetado também é de 8%.

Na Genial Investimentos, os analistas também esperam dividendos de R$ 2 por ação VALE3, o que representaria um dividend yield trimestral de 3,3% e anualizado de 13%.

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Enquanto na Nord, o valor do dividendo é um pouco maior, de R$ 2,90, com um dividend yield projetado de 10% para 2024, considerando também as distribuições de março.

Vale está muito barata?

A Vale enfrenta momentos desafiadores diante da desaceleração econômica da China, principal consumidora de minério de ferro do mundo. Mas também há incertezas com relação a fatores como o acordo de Mariana — que prevê indenização pelo desastre ambiental ocorrido em 2015 — e a sucessão da companhia, com escolha do seu novo CEO. Todos estes pontos têm exercido pressão sobre os preços das ações da mineradora.

Negociando a múltiplos de 4 vezes o EV/EBITDA e 7 vezes o preço sobre lucro, a Vale pode ser considerada barata, aponta Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research. Segundo ele, a mineradora negocia a praticamente metade do histórico da bolsa de valores — que opera a 15 vezes o preço sobre lucro e cerca de 8 a 9 vezes o EV/EBITDA.

Quando observado o histórico da própria Vale, o preço da ação estaria em 50% da média do que custou nos últimos anos, diz Bueno. Por este motivo, o analista espera que as ações possam valorizar. Mas não devem superar os 50% de alta. A recuperação dependeria da retomada da China e a alta nos preços do minério de ferro, na visão do analista.

Bueno estabeleceu um preço-teto de compra para as ações VALE3 de R$ 73, com tendência de que, no longo prazo, estas negociem a 6 vezes o EV/Ebitda e cerca de 11 vezes o preço sobre lucro.

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Poladian, da Meraki Capital, lembra que se comparada com as principais concorrentes australianas, o desconto está próximo de 30% ao se olhar o múltiplo EV/Ebitda, superior ao que costumava ser na sua média histórica, de 20%. Para ele, caso a Vale consiga um acordo com Mariana que não aumente significativamente as provisões no balanço e escolha um sucessor que o mercado aprove, o desconto nas ações deverá diminuir.

Arbetman, da Ativa, considera que apesar de que existe desconto nas ações, a companhia não estaria tão barata, dado que a queda nos preços tem fundamentos como os problemas com a China e o acordo de Mariana. "A ação está um pouco mais descontada do que os pares, mas existe motivo para isso", avalia.

Prós e contras para os dividendos

Para Poladian, um fator que deve contribuir de forma positiva ou negativa com a geração de caixa da companhia e a distribuição de dividendos é o preço do minério de ferro. O analista explica que, no começo do ano, a commodity negociava em patamares próximos a US$ 140 a tonelada, mas depois caiu para US$ 100, devido ao mercado imobiliário chinês fraco, baixa produção de aço e estoques em níveis elevados.

A perspectiva dele é que os preços do minério de mantenham em torno de US$ 100 nos próximos meses, com alguma melhora no final de ano. Poladian também destaca o nível de produção do minério, que está com bom desempenho e tudo indica que a Vale deve atingir o topo das projeções para 2024.

Outro fator positivo é que o capex (necessidade de investimentos na empresa) da Vale não é muito elevado, isso permite que haja sobra de caixa para pagar dividendos, afirma Bueno, da Nord.

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Para Bueno, se os resultados da Vale continuarem estáveis em relação ao visto em 2023, o investidor verá dividendos robustos, com um dividend yield de 10%. "Se a ação subir, o dividend yield pode acabar caindo um pouco. Mas a tendência é que a Vale mantenha seus bons pagamentos".

Segundo o analista, se o ebitda da companhia subir, impulsionado por fatores cambiais ou preço do minério, o investidor poderia esperar até dividendos extraordinários.

Entre os fatores negativos que podem pressionar os proventos da Vale, a maior incerteza está em relação ao preço do minério de ferro, dado que os eventos relacionados a Mariana e a sucessão da companhia já estariam precificados no mercado, diz Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest.

Na visão de Saravalle, a tendência é que os preços da commodity sigam uma trajetória morna, sem grandes saltos, mas ainda com possibilidade de queda, avalia Saravalle. "Se tiver uma queda muito forte nos preços, impacta na geração de caixa e consequentemente nos dividendos", aponta.

Arbetman, da Ativa, cita ainda que os prêmios para o minério de ferro ficaram no negativo no 2° trimestre, o que é ruim para a companhia. Os prêmios representam a diferença entre o minério produzido pela empresa e o preço de minério de ferro de qualidade superior a 62Fe, que é a referência em Dalian. "Hoje o prêmio está negativo. Ou seja, o minério mais caro estaria 'mais barato' que um de menor qualidade. A Vale está aumentando a produção de menor qualidade, o que é negativo para o resultado e as margens, mas é como a companhia está tendo que operar", explica.

Além do prêmio e a qualidade, Arbetman aponta que os custos também podem jogar contra os dividendos, dado que a companhia não tem apresentado custos de produção baixos.

Há espaço para dividendos extraordinários?

Entre os analistas consultados, a maioria não acredita que haja um pagamento de dividendos extraordinários em 2024.

Distribuições extraordinárias ou um incremento do valor pago em setembro só ocorreriam se houver uma recuperação acelerada da economia chinesa ou uma retomada da demanda do minério de ferro, impulsionando assim os resultados da Vale, destaca Bueno.

No entanto, para o analista da Nord esta possibilidade é distante. Apesar disso, Bueno considera que os valores pagos em março e setembro representam um bom retorno em dividendos para os investidores.

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Para Saravalle, se houver desembolsos adicionais- favorecidos principalmente por um menor provisionamento no acordo de Mariana- estes não viriam na forma de proventos e sim de recompras de ações ao longo dos próximos trimestres. Diante disso, o analista considera que faz sentido ter as ações VALE3 e recomenda a compra dos papéis até o preço-teto de R$ 65. O dividend yield projetado para os próximos 12 meses é de 11%.

O acordo de Mariana será crucial para a possibilidade de ter dividendos extraordinários, reforça Arbetman, da Ativa. Embora também não os considere como o cenário base.

Na contramão do mercado, Poladian acredita que um bom acordo para Mariana, que não eleve significativamente a dívida da companhia, somado aos recursos que a empresa receberá com a venda de parte da sua operação de metais básicos, permitiriam que a Vale faça um pagamento extraordinário no final deste ano ou no começo do próximo.

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