IPCA
0,46 Jul.2024
Topo

Peso argentino ignora tendências regionais após flutuação livre

Carolina Millán

22/01/2016 12h22

(Bloomberg) - Um mês depois de o presidente Mauricio Macri ter eliminado os controles cambiais como parte dos esforços para acabar com a década de exclusão da Argentina dos mercados internacionais de capitais, o peso continua sendo cotado com um isolamento notável em relação a outras moedas.

O peso caiu 27 por cento no primeiro dia de liberdade no mês passado, porém, desde então, se enfraqueceu apenas 1,9 por cento, com um desempenho superior à queda de 3,9 por cento das moedas de mercados emergentes. A moeda não está mais correlacionada ao restante dos mercados emergentes do que estava em novembro, quando o banco central administrava os movimentos diários, mostram dados compilados pela Bloomberg.

No governo da presidente anterior, Cristina Kirchner, e de seu marido e predecessor, o falecido Néstor Kirchner, a Argentina restringiu o comércio, desafiou os detentores dos bonds de seu calote e administrava a moeda com intervenções diárias do banco central. Macri, que tomou posse no mês passado, está permitindo que o peso flutue livremente como parte de seu plano para estimular o crescimento e reinserir a Argentina na economia global, o que lhe permitirá tomar empréstimos e atrair mais investimentos estrangeiros.

"A moeda da Argentina está desvinculada dos mercados internacionais", disse Gustavo Quintana, operador de moedas da Rabello Cía, em Buenos Aires. "A economia argentina ficou desconectada do restante do mundo nos últimos anos, então essa é uma consequência lógica. A transição está sendo mais gradual que a explosão que se esperava inicialmente".

Previsões contrárias

O peso caiu 1,5 por cento nesta semana, para 13,6 por dólar na plataforma de trading eletrônico MAE. Os economistas elevaram as previsões para o peso mais que para qualquer outra moeda no mundo, segundo dados compilados pela Bloomberg. Um mês atrás, eles estimavam que o peso recuaria para 14,5 por dólar por volta do final de março. Agora, eles projetam 14 por dólar.

O volume de trading dobrou em dezembro em comparação com o mês anterior, para US$ 6 bilhões, porém continua abaixo dos US$ 9 bilhões do trading em abril de 2011, antes que os controles cambiais entrassem em vigor. Os investidores estrangeiros estão sendo cautelosos antes de adotar o peso, disse Ezequiel Aguirre, estrategista cambial do Bank of America. A Argentina ainda não chegou a um acordo com os holdouts, liderados pelo bilionário gerente de fundo hedge Paul Singer. As reuniões com os credores foram adiadas para o dia 1º de fevereiro, e o mediador Daniel Pollack mencionou dificuldades logísticas.

O fim do litígio de uma década entre o país e os credores e o subsequente retorno aos mercados de capitais seriam positivos para a moeda, pois o dinheiro captado no exterior ajuda a reabastecer reservas esgotadas, acrescentou Aguirre. As reservas da Argentina caíram para o valor mais baixo em nove anos após anos de intervenção do banco central para dar apoio ao peso. Desde que Federico Sturzenegger assumiu a presidência do banco central em dezembro, o banco não interveio no peso e as reservas aumentaram US$ 1,4 bilhão.

'Coisas horríveis'

O novo ministro da Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, durante uma entrevista em Davos, na quarta-feira, disse que o país voltaria a crescer "não porque faremos grandes coisas, mas porque vamos parar de fazer coisas horríveis".

O peso argentino se manteve mais forte que o previsto porque os exportadores de grãos que tinham esperado a flutuação livre para vender suas safras a preços mais altos que a taxa anterior venderam US$ 2 bilhões nas últimas três semanas do ano. A demanda reprimida por dólares entre os importadores foi mais baixa que o previsto, o que sugere que eles tinham coberto sua posição antes da desvalorização.

É provável que a volatilidade continue enquanto o peso não encontrar seu ritmo, disse Rafael di Giorno, diretor da Proficio Investment em Buenos Aires.

"O mercado ainda está procurando o ponto de equilíbrio", disse Di Giorno. "Provavelmente levará mais dois ou três meses para entender onde o peso vai acabar".