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Não esqueça a Irlanda quando olhar novos riscos na zona do Euro

Dara Doyle

25/01/2016 16h20

(Bloomberg) - A Irlanda começa a decidir seu próximo governo no início do próximo mês, e se as eleições em outros países que já estiveram no centro da crise da dívida europeia foram algo a ser levado em conta, os investidores devem ser cautelosos.

A votação de Portugal em 4 de outubro produziu um resultado inconclusivo, levando a semanas de negociações antes que o líder socialista António Costa assumisse o poder com promessas de colocar freios em medidas de austeridade. O yield de bonds saltou para o ponto mais alto em seis meses desde então. Na Espanha, o primeiro-ministro Mariano Rajoy perdeu sua maioria no mês passado depois de anos de aperto de cinto e o país ainda não tem um novo governo.

A Irlanda é um outro eleitorado europeu cansado dos cortes no orçamento. Pesquisas indicam que a coalizão do primeiro-ministro Enda Kenny vai lutar para ganhar a maioria, embora não haja nenhuma alternativa clara. O país, modelo de recuperação econômica do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, viu o yield de bonds de 10 anos afundar abaixo de 1 por cento este mês. Mas os bancos e corretoras já estão soando os avisos.

"A eleição é o mais importante ponto de ignição potencial do ano", disse Dermot O'Leary, economista da Goodbody Stockbrokers, em Dublin. "Os investidores foram pegos pelo resultado inconclusivo na Espanha, então as atenções estão voltadas agora para a Irlanda."

Com os investidores também assustados com o movimento em Portugal para impor perdas a alguns investidores no que restou de um banco falido, os títulos soberanos do país tiveram os piores desempenhos na zona do euro este ano, depois da dívida grega.

O yield dos títulos portugueses de 10 anos estava acima de 3 por cento na semana passada, um aumento de até 80 pontos base desde a eleição. Os da Espanha, ao contrário, mudaram pouco em comparação com antes da eleição de 20 de dezembro, em 1,71 por cento. A Irlanda paga menos para emprestar do que qualquer um dos chamados países periféricos do euro. O yield de bonds de 10 anos estava em 1,04 por cento na segunda-feira, em Dublin, parecendo-se mais com os da França ou da Bélgica do que com um crédito de maior risco.

"Trabalho duro"

Kenny, 64 anos, ainda tem que marcar a eleição no país, mas isso deve acontecer no início de abril e existem algumas expectativas de que vai marcar a data na próxima semana. Todos os principais partidos estão prometendo relaxar a austeridade que ajudou a Irlanda a recuperar sua soberania econômica, uma promessa que ecoou em Portugal e na Espanha e dividiu o eleitorado.

Desde que Kenny chegou ao poder em 2011 depois que o país foi forçado a procurar um resgate internacional alguns poucos meses antes, a recuperação da Irlanda foi apoiada por cortes de gastos e aumentos de impostos equivalentes a cerca de um quinto da economia, enquanto o mercado de bonds melhorou também com a ajuda do estímulo monetário do BCE.

O apoio combinado para a aliança Fine Gael-Trabalhistas de Kenny caiu dois pontos percentuais em janeiro para 39 por cento, afirma o Sunday Business Post, citando uma pesquisa Red C. Para ganhar um segundo mandato, é preciso ganhar cerca de 44 por cento, de acordo com Philip O'Sullivan, economista da Investec Plc em Dublin. Os dois partidos juntos, conquistaram 55 por cento em 2011.

Quem mais?

O problema para a oposição, e talvez para os investidores, é que não existe alternativa clara para a coalizão de Kenny.

O apoio ao Fianna Fail, no passado um dos partidos de maior sucesso da Europa nas urnas, continua em cerca de 20 por cento. Sua liderança tem, até agora, descartado a ideia de governar com Kenny ou o Sinn Fein, o antigo braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA) que se transformou no principal defensor da anti-austeridade e liderava as pesquisas até um ano atrás.

"As eleições gerais no sul da Europa em 2015 produziram algumas surpresas significativas e uma situação política confusa", diz Jens Peter Sorensen, analista-chefe do Danske Bank A/S, em Copenhague, em uma nota aos clientes na semana passada. "A próxima eleição na Irlanda pode produzir um resultado similar". Poderia contribuir para a volatilidade "de curta duração", em bonds do governo irlandês, disse ele.