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Investidores usam falta de crédito e compram títulos de qualidade

Cordell Eddings

26/01/2016 12h38

(Bloomberg) -- Depois que os investidores em dívidas corporativas sofreram o pior início de ano da história, alguns dos maiores estrategistas e gestoras de recursos de Wall Street dizem que chegou a hora de começar a comprar.

O rendimento extra que os investidores exigem para manter títulos corporativos com grau de investimento já superou os níveis observados antes das recessões anteriores, como a de 2007, segundo o Citigroup.

Para investidoras como a Pacific Investment Management (Pimco) e a Vanguard Group, trata-se de uma contradição em relação a uma economia que deverá crescer 2,4% neste ano e aos lucros das empresas, que estão se mostrando mais resilientes do que os analistas haviam estimado.

"Há muito valor lá fora", disse Stephen Antczak, chefe de estratégia de crédito do Citigroup. A reação nos títulos corporativos "foi tão drástica e tão violenta -- acima e além do que os fundamentos e até mesmo a volatilidade extrema deveria ditar", disse Antczak, que em 2007, como estrategista para rendimentos altos do UBS, recomendou a redução das posições em dívidas corporativas de risco.

Os resultados corporativos se mostraram mais fortes do que o previsto nessa temporada de lucros. Entre os 78 membros do Standard Poor's 500 Index que divulgaram resultados até sexta-feira, mais de três quartos tiveram lucros melhores que o esperado. Isso se compara com a fatia de cerca de 22% das empresas que divulgaram resultados piores que o esperado.

Os título corporativos dos EUA perderam 0,312% até esta altura do ano, pior início de ano em 16 anos. Os juros para empresas com grau de investimento atingiram a maior alta em quatro anos e a Standard Poor's alertou que a perspectiva para as empresas tomadoras de empréstimos em todo o mundo era a pior desde 2009.

Preocupação com a recessão

O prêmio de risco sobre o Markit CDX North American Investment Grade Yield Index, uma referência dos swaps de crédito ligada à dívida de 100 das empresas mais seguras, subiu para 112,47 pontos-base, maior patamar em mais de três anos. Uma medida similar para dívidas de grau especulativo registra seu nível mais elevado desde 2012.

Ainda há muitos temores de que esses sinais apontem para uma chance maior de recessão, segundo Bonnie Baha, que ajuda a administrar US$ 80 bilhões na DoubleLine Capital. "Vimos uma tonelada de empréstimos que não geram receita", disse Baha. "Em algum ponto isso se torna muito deflacionário. E então você tem que se preocupar mais com a preservação de seu capital do que em encontrar valor".

Baha disse que a DoubleLine reduziu suas posições em títulos com grau de investimento nos últimos meses.

Na Vanguard Group, Gregory Nassour, diretor e corresponsável pela gestão do portfólio com grau de investimento, está começando a comprar alguns desses títulos. "O crédito é mais fraco do que antes, mas nem tudo está totalmente ruim. Ainda há coisas para comprar", disse Nassour. "Estamos vendo muita volatilidade, muitos fluxos e refluxos, mas não é o fim do mundo".

As emissoras relacionadas às commodities sofreram mais, mas os temores a respeito de um colapso se espalharam também para outros setores. É nesse espaço que estão algumas das melhores compras, segundo Mark Kiesel, diretor de investimentos para crédito global da Pimco.

Kiesel disse que prefere setores como os de bens de consumo, de habitação, de saúde, farmacêutico e de materiais de construção, que têm sido derrubados juntamente com as emissoras relacionadas às commodities e com os mercados emergentes porque os investidores mostram-se preocupados com a desaceleração do crescimento global. A dívida do setor de consumo caiu 0,5 por cento nas últimas duas semanas, sendo que a cervejaria Anheuser-Busch InBev, a PepsiCo e a Kraft Heinz estão entre as empresas de pior desempenho no setor.

"O resultado é que o consumidor americano representa quase 70% da economia dos EUA e não vemos uma recessão nos EUA neste ano", disse Kiesel por e-mail. "Contudo, os mercados de crédito estão 'precificando' cada vez mais uma chance maior de recessão, que é onde está a oportunidade. Nós queremos continuar com uma 'alta qualidade' e dar preferência a setores orientados ao consumo dos EUA".