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Fuga de US$ 1 tri da China não tem a ver com controle de capital

Enda Curran

28/01/2016 14h17

(Bloomberg) - No ano passado, os responsáveis pela política econômica chinesa viram US$ 1 trilhão em capital sair do país. Agora, a pergunta na cabeça dos investidores globais é o que exatamente a equipe econômica do presidente Xi Jinping vai fazer a respeito.

Uma opção é construir um muro ao redor da economia de mais de US$ 10 trilhões com controles novos e abrangentes de capital. É o equivalente econômico a quebrar o vidro e acionar o alarme - e algumas pessoas sérias estão defendendo isso. Uma delas é o presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, que chamou a atenção nas conferências de Davos, na semana passada, quando instou a China a impor controles de capital para conter o fluxo de saída do dinheiro.

A China vem recebendo muitos conselhos não solicitados ultimamente. Seus parceiros comerciais, incluindo o Japão, e produtores de commodities em todo o mundo têm uma grande participação na transição da China de uma economia de exportação de alta velocidade para outra mais sustentável, ancorada nos serviços e gastos do consumidor.

No entanto, a transição não é fácil. A China está crescendo no ritmo mais lento desde 1990, e seus mercados de ações nacionais em Xangai e Shenzhen sofreram várias quedas fortes em janeiro que destruíram US$ 1,8 trilhão em riqueza. Também não existem soluções rápidas para as autoridades, que já têm regras estritas sobre o fluxo de dinheiro.

Fim dos negócios?

O êxodo de capital é também um reflexo de melhores oportunidades de investimento no exterior, e isso não é necessariamente ruim - pelo menos com moderação. No ano passado, as empresas chinesas gastaram um recorde de US$ 61 bilhões em aquisições no exterior que poderiam levá-las a novos mercados e avançar em inovação nos próximos anos. Neste mês, a Haier Group anunciou planos para usar seu braço de capital aberto em Xangai para pagar US$ 4,5 bilhões pela unidade de eletrodomésticos da General Electric.

Outros tipos de saídas de capital são menos bem-vindos: saídas contínuas podem fomentar pressões deflacionárias, ser um obstáculo ao crescimento e pesar sobre os preços dos ativos, de imóveis a ações.

Alguns investidores chineses estão tirando o dinheiro do país por medo de uma desvalorização dramática do yuan e pela incerteza quanto às intenções do governo. O Banco Popular da China (PBOC) insiste em que não está contemplando uma grande mudança na política cambial. No ano passado, o banco usou uma grande parte das reservas cambiais para sustentar o yuan. A mídia estatal tem alertado os especuladores, incluindo o investidor bilionário George Soros, a recuar e a não vender a moeda a descoberto.

Queda do yuan

Mas mesmo assim o yuan continua caindo e atingiu o valor mais baixo em cinco anos no início deste mês, levando para mais de 5 por cento sua queda nos últimos 12 meses. O PBOC não age com total independência e às vezes se curva à vontade do governo, onde alguns funcionários poderiam se sentir tentados a impulsionar o setor de exportação, deixando a moeda cair ainda mais.

Yu Yongding, ex-conselheiro do PBOC, diz que os responsáveis pelas decisões econômicas devem parar de intervir no mercado de câmbio e preservar as reservas estrangeiras.

Também é possível tomar medidas mais draconianas, como aumentar as taxas de juros ou permitir uma depreciação forte de uma vez. Mas passos assim trazem riscos significativos em uma economia que está perdendo velocidade e exigem uma reestruturação grande entre suas indústrias estatais sobrecarregadas de dívidas.

A opção mais draconiana de todas - a imposição de novas restrições abrangentes sobre o fluxo de dinheiro - iria destruir compromissos anteriores de reformas do setor financeiro.

Poucas opções boas

Enquanto isso, a pressão não diminui. Os fluxos de saíra deram um salto em dezembro, coroando um número estimado total de US$ 1 trilhão em 2015, um recorde nos dados da Bloomberg Intelligence que remontam a 2006.

A China conserva muitos pontos fortes. A economia subjacente está mostrando sinais de resiliência, especialmente entre os setores de consumo e serviços. E nem todo o dinheiro saindo pode ser descrito como fuga de capitais: parte se destina a pagar a dívida externa ou a financiar investimentos no exterior.

Mas, com tão poucas opções boas, talvez o curso mais provável seja tentar sair de um jeito ou de outro, com uma mistura de intervenção, pressões e incremento do aperto sobre o capital para tentar frear a saída de capital. Em último caso, uma solução exige o restabelecimento da confiança nas perspectivas econômicas e que as autoridades monetárias chinesas consigam transmitir claramente seus objetivos para os investidores globais.