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Coalizão de Merkel arrisca meta de carros elétricos

Birgit Jennen

01/02/2016 13h30

(Bloomberg) - A chanceler Angela Merkel está no meio de mais uma briga dentro de sua coalizão de governo, desta vez em relação a dois assuntos muito importantes para os alemães: automóveis e disciplina fiscal.

Com as dificuldades para cumprir a meta do governo de 1 milhão de veículos elétricos nas ruas alemãs até 2020, o vice-chanceler Sigmar Gabriel quer desembolsar cerca de 2 bilhões de euros (US$ 2,2 bilhões) em incentivos para compensar o preço mais alto dos carros ecológicos para seus compatriotas amantes do autobahn.

O ministro das Finanças, Wolfgang Schaeuble, é totalmente contra isso.

"Para conseguir que o mercado cresça bastante, precisamos de incentivos para os compradores", afirmou Matthias Wissmann, chefe do grupo alemão da indústria automobilística VDA, em um comunicado à Bloomberg. "Os políticos devem fornecer urgentemente os impulsos certos".

Merkel, que está buscando um meio-termo entre os dois ministros, que provavelmente incluirá incentivos e benefícios fiscais, se reunirá com o CEO da Daimler, Dieter Zetsche, o CEO da Volkswagen, Matthias Mueller, e o CEO da BMW, Harald Krueger, na terça-feira para discutir como eles podem avançar, de acordo com um funcionário do governo familiarizado com o planejamento.

A chanceler também está interessada em evitar outra ruptura com seus parceiros de coalizão depois de negociar um acordo na semana passada para acabar com uma briga sobre a crise de refugiados.

Merkel, que atualmente está longe de atingir seu objetivo, quer manter a indústria automobilística do país - lar da Mercedes-Benz, Audi, Porsche, VW e BMW - competitiva internacionalmente.

No total, pouco mais de 30 mil carros elétricos foram registrados na Alemanha, que historicamente tem se inclinado para a tecnologia do diesel para reduzir as emissões. O

utros países, como França, Noruega e Estados Unidos, tiveram mais sucesso com os elétricos por causa dos descontos e das reduções de impostos que oferecem. Só no ano passado, cerca de 26 mil carros elétricos foram vendidos na Noruega, um país muito menor.

Incentivos

A solução de Gabriel é seguir o caminho de outros países e oferecer cerca de 5.000 de euros em incentivos por veículo até 2020 para impulsionar o mercado.

"Se não impulsionarmos o mercado aqui, os veículos continuarão caros", disse Gabriel - que lidera os sociais-democratas, parceiros da coalizão de Merkel - no mês passado. "Não vamos conseguir aqui na Alemanha o que queremos, ou seja, a produção da bateria industrial".

O Premiê da Bavária, Horst Seehofer, cujo estado é a sede da Audi e da BMW, surgiu como um aliado na semana passada, quando defendeu um programa desse tipo também. Seehofer, que dirige o partido bávaro irmão da União Democrata Cristã, de Merkel, tem sido o principal antagonista da chanceler na disputa dentro da coalizão sobre os imigrantes, ameaçando com um processo se não conseguir o que quer.

Mão amiga

"Às vezes é preciso dar uma mãozinha aos negócios", disse Seehofer na sexta-feira a respeito dos incentivos. "Queremos uma tecnologia-chave que fará com que a Alemanha, que está em uma competição brutal com a indústria automobilística mundial, esteja pronta para o futuro".

Gabriel e Seehofer falaram com Merkel sobre os incentivos durante conversas entre os três que aconteceram na última quinta-feira para discutir o influxo de pessoas pedindo asilo. Schaeuble não estava presente nas discussões.

Como ministro das Finanças, é ele quem controla os cofres do governo e foi quem ajudou Merkel a manter o controle abafando uma rebelião dentro de seu partido, a CDU, por causa dos refugiados.

Como o governo planeja oferecer bilhões de euros para cuidar de mais de 1 milhão de pessoas que estão pedindo asilo e entraram no país no ano passado, Schaeuble disse que é contra gastar dinheiro para convencer as pessoas a comprar carros mais caros.

O ministro das Finanças, que é o político mais popular da Alemanha, diz que o governo deveria se concentrar na expansão da infraestrutura necessária para abastecer os veículos. O país tem atualmente cerca de 5.600 pontos de recarga, de acordo com a VDA.

"Em outros assuntos, a indústria automobilística nos pede para sempre respeitar os princípios da economia de mercado", disse Schaeuble na semana passada em uma entrevista a um jornal de Stuttgart. "Não é papel do governo ajudar a vender carros".