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Cidade alemã força gigantes automotivas a combaterem a poluição

Brian Parkin e Nicholas Brautlecht

15/02/2016 10h51

(Bloomberg) -- Uma cidade arborizada de 275.000 habitantes no cinturão suburbano de Frankfurt está abrindo uma nova frente na batalha da indústria automotiva alemã contra a poluição.

Um tribunal administrativo de Wiesbaden, conhecida por uma histórica fonte de águas termais e por uma gigantesca base militar dos EUA, ordenou que o governo regional elimine as fumaças dos escapamentos provocadas pelo diesel até setembro, do contrário será multado. A decisão tomada no mês passado foi a primeira a aplicar limites às emissões, colocando o governo estadual em um dilema: acatar a ordem ou alarmar a indústria automotiva.

Com a admissão de fraude nos controles de poluição de milhões de carros da Volkswagen ainda presente na mente do público, a decisão da Justiça é um sinal da frustração com a lentidão das autoridades regionais no tocante à limpeza do ar. Isso está aumentando a pressão sobre as fabricantes de automóveis da Alemanha -- incluindo a BMW, a Audi e a Daimler -- para aumentar as alternativas à tecnologia do diesel, que ainda está no cerne dos modelos de negócios.

"Ou encontramos uma solução comum -- temos dois anos, talvez -- ou será ditada uma solução externa para nós", disse o CEO da Volkswagen, Matthias Müller, em um evento em Hamburgo no dia 1o de fevereiro, no qual executivos do setor foram convidados a discutir uma solução para a propagação da crise.

A decisão da Justiça é um sinal das pressões para que o governo atue após as revelações da VW. Isso, juntamente com o compromisso da União Europeia de frear as emissões de gases do efeito estufa sob o acordo climático da Organização das Nações Unidas, fechado em Paris, em dezembro, está fazendo as autoridades dos EUA e de toda a Europa se mexerem.

Em junho passado, a Comissão Europeia, braço executivo da UE, abriu processos de infração contra a Alemanha porque 29 regiões -- incluindo suas maiores cidades, Berlim, Hamburgo e Munique -- não conseguiram cumprir os limites para os óxidos de nitrogênio, um subproduto da queima do diesel.

"Nenhuma das cidades tem ideia de como podemos nos posicionar abaixo dos valores-limite", disse o prefeito de Hamburgo, Olaf Scholz, quando se reuniu com Müller e outros executivos do setor automotivo.

O tribunal de Wiesbaden deu a Hesse, o estado onde a cidade está localizada, dois a três anos para limitar as emissões de NOx. O estado de Hesse respondeu dizendo que talvez não contem com um plano adequado, dizendo que "foram utilizados todos os instrumentos razoáveis" para atingir os limites. O estado está apelando da decisão.

A poluição do diesel é um problema generalizado. As emissões de NOx excederam em 60 por cento os limites admissíveis das 374 estações de testes da Alemanha em 2015, disse o Escritório Federal de Meio Ambiente no mês passado. As partículas finas emitidas pelos escapamentos dos motores a diesel, juntamente com o NOx, podem causar 10.000 mortes por ano na Alemanha, estima a Agência Europeia do Meio Ambiente.

Domínio no diesel

O assunto é prejudicial para as fabricantes de automóvel alemãs, que dominam as vendas de carros a diesel tanto nos EUA quanto na Europa. Quase metade dos 3 milhões de novos carros vendidos por ano na Alemanha são movidos a diesel, segundo a VDA, uma associação do setor. Nos EUA, a VW, a BMW, a Audi e a Mercedes-Benz mantêm 92 por cento do mercado de carros novos a diesel, segundo o Conselho Internacional de Transporte Limpo.

Cerca de 74 por cento dos carros vendidos pela BMW são movidos a diesel. Na Audi, a fatia é de 67 por cento. Em 2015, apenas um terço da frota de carros a diesel da Alemanha cumpria o padrão da União Europeia para as emissões geradas pelo diesel. Na semana passada, a Mercedes revelou o primeiro de uma série de novos motores de carros a diesel, comprometendo 2,6 bilhões de euros (US$ 2,9 bilhões) com o futuro da tecnologia. Metade dos 14 milhões de carros a diesel existentes na Alemanha será substituída por novos veículos a diesel mais limpos nos próximos cinco anos, segundo estimativas da VDA.

A decisão do tribunal marca um "importante ponto de inflexão na política de transporte, não apenas em Hesse, mas em todo o país", disse Remo Klinger, professor de Direito que representa a Environmental Action Germany, o grupo de pressão que entrou com a ação judicial contra o estado. "Outros tribunais acompanharão a decisão, com certeza".