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Anfavea: Sem recuperação, setor terá de ajustar empregos

Leonardo Lara e Fabiola Moura

23/02/2016 08h24

(Bloomberg) -- As montadoras de automóveis do Brasil se preparam para cortar mais postos de trabalho com o agravamento da pior crise econômica em um século no País.

A capacidade ociosa nas 65 fábricas instaladas no Brasil chegou a 30 por cento ao mesmo tempo em que as vendas de veículos desabaram 27 por cento em 2015 em relação ao ano anterior, de acordo com Luiz Moan Yabiku Junior, presidente da Anfavea - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Em 2015, o setor demitiu 14.800 pessoas. Agora, manter 6.000 empregados em layoff e 36.000 empregados trabalhando em jornada reduzida pelo PPE pode não ser suficiente, diz ele.

"As empresas precisam ter uma perspectiva positiva para poder manter esse excedente de pessoal sem trabalho", disse Moan em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo. "Se não houver perspectiva, o caminho é o ajuste de pessoal."

No meio de uma recessão de dois anos, prevista para ser a pior desde pelo menos 1990, o Brasil encontra-se preso em um ciclo de perda de emprego e redução dos gastos dos consumidores. O desemprego nacional subiu para 9 por cento com a baixa nas vendas do varejo e a contração na produção industrial por 22 meses seguidos, mostram dados do governo.

Apesar de a Anfavea prever que as vendas de veículos terão uma retração de 7,5 por cento este ano, essa estimativa pode vir a se mostrar excessivamente otimista. A projeção divulgada pela associação em janeiro era baseada numa contração do PIB de 2,9 por cento em 2016. Mas os economistas esperam uma queda de 3,4 por cento, segundo a mais recente pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira.

"Temos hoje, com a capacidade ociosa toda, um excedente de pessoal muito forte", disse Moan. "Se olharmos a nossa estatística voltamos a produção a 2006 e o nível de emprego, voltamos a 2010. O desempenho em 2015 foi efetivamente muito negativo, muito além do que nós imaginávamos, porque em realidade nós não esperávamos a influencia das questões políticas na economia do tamanho que foi."

O setor tinha em janeiro cerca de 36.000 trabalhadores no Plano de Proteção ao Emprego do governo federal, chamado de PPE. Nos termos do programa, as montadoras concordaram em manter parte da força de trabalho com redução salarial proporcional, enquanto o governo garante uma compensação àqueles com salário reduzido.

"O PPE é um programa bom, o problema é que ele é um programa de ultrapassagem de crises", disse Moan. "Com 40 anos de indústria, nunca vi um cenário tão complicado assim."

FCA - Fiat Chrysler e General Motors, líderes em vendas no País em 2015, se recusaram a comentar.

--Com a colaboração de Vanessa Dezem.

Para entrar em contato com os repórteres: Leonardo Lara em São Paulo, llara1@bloomberg.net; Fabiola Moura em São Paulo, fdemoura@bloomberg.net Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto, tmarotto1@bloomberg.net Taís Fuoco, Patricia Xavier