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Indústria alemã adverte: brexit não será 'divórcio amigável'

Brian Parkin, Rainer Buergin e Alessandro Speciale

26/02/2016 12h50

(Bloomberg) -- O possível divórcio entre o Reino Unido e seus parceiros da União Europeia seria uma questão conturbada que deixaria milhares de decisões de investimento passadas, presentes e futuras no limbo, segundo o diretor-geral do maior grupo do setor industrial da Alemanha.

A BDI -- a Federação das Indústrias da Alemanha, que representa as 100 mil maiores empresas do país, incluindo a Siemens e a Allianz -- se opõe resolutamente à "brexit" (saída do Reino Unido) e teme que aqueles que são favoráveis à saída do país do bloco talvez não estejam fazendo seu dever de casa, disse Markus Kerber.

A BDI tem laços próximos com a Confederação da Indústria Britânica, que também rejeita a saída da UE.

A votação pela saída, no referendo de 23 de junho, desencadearia uma "luta com unhas e dentes" entre o Reino Unido e os antigos parceiros para garantir vantagens bilaterais na separação, disse Kerber, em entrevista, em Berlim, na quinta-feira.

"Não seria um divórcio amigável", disse Kerber. E, diferentemente da Noruega e da Suíça, "não há nenhum status padrão de livre comércio europeu à espera".

Os comentários de Kerber ressaltam o crescente desconforto sentido na Alemanha em relação à consequência comercial de uma possível saída. A dor poderia durar anos e danificar ou desfazer completamente os laços comerciais e de investimento construídos durante décadas, disse Kerber.

A Alemanha é a maior parceira comercial do Reino Unido, e os britânicos ocupam o quarto lugar entre os maiores sócios comerciais dos alemães. O comércio bilateral somou 92 bilhões de euros (US$ 101 bilhões) em 2014.

Cerca de 2.500 empresas alemãs operam unidades britânicas que empregam 370 mil pessoas --o primeiro-ministro britânico, David Cameron, visitou uma fábrica da Siemens na região oeste da Inglaterra, neste mês, para fazer um discurso exaltando seu acordo sobre a UE.

Por outro lado, 3.000 empresas com sede no Reino Unido, incluindo a GKN, a Terra Firma Investments e a Rolls-Royce Holdings, operam unidades alemãs, segundo dados do governo alemão.

'Choque econômico'

O ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, disse à BBC Television em Xangai, na sexta-feira (26), que a saída da UE causaria "um profundo choque econômico ao nosso país, para todos nós, e eu farei tudo que puder para evitar que isso aconteça".

"Acho que o dano para os dois lados em uma brexit seria bastante grande, mas ainda maior para o Reino Unido, porque 50% de seu comércio é feito com a UE", disse Kerber.

"Isso significa que 50% das exportações do país navegarão em águas inseguras de um dia para o outro".

A resolução dos assuntos jurídicos pós-saída, incluindo tratados de comércio, impostos e assuntos regulatórios, poderia levar entre cinco e 10 anos, "envolvendo empresas em milhares de revisões de contrato", disse Kerber, que já foi banqueiro e chefe de divisão do ministério das finanças sob Wolfgang Schäuble.

Fusão de bolsas de valores

O comentário da imprensa alemã nesta semana, após o anúncio de uma possível fusão entre a Deutsche Boerse e a London Stock Exchange Group, se concentrou no impacto de uma possível brexit, um acontecimento que poderá assombrar uma série de decisões de investimentos futuras, disse Kerber.

"É claro, não se pode descartar que em cinco a 10 anos as coisas melhorariam para o Reino Unido -- o país poderia se transformar em um super-Cingapura na porta da Europa", disse Kerber. "Mas politicamente este é um longo, longo período de espera".