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Panorama: Saídas disfarçadas de dinheiro da China

Christopher Balding

15/04/2016 16h17

(Bloomberg) -- Notícias de que as reservas cambiais da China cresceram em US$ 10 bilhões em março, em vez de cair, acalmaram os pessimistas. Preocupações de que as reservas poderiam cair a níveis perigosos, já no meio desse ano - após caírem cerca de um US$ 1 trilhão no ano passado - parecem ter sido prematuras. Mesmo assim, as perguntas permanecem sobre exatamente quanto dinheiro está deixando a China e por quê. A verdadeira imagem pode não ser tão rósea quanto os números sugerem.

Antes da retomada de março, muito capital tinha deixado a China a um ritmo veloz - uma média de US$ 48 bilhões por mês nos seis meses anteriores, segundo dados do banco oficial. As razões eram várias. Temendo novas quedas no valor do yuan, várias empresas pagaram seus empréstimos em dólares; outros fizeram grandes aquisições no exterior. Os investidores individuais procuraram retornos maiores quando o Fed se preparava para aumentar as taxas. O governo gastou bilhões para sustentar o valor da moeda. Alguns indivíduos e empresas reduziram seus depósitos em yuan no exterior. Outros ainda queriam tirar dinheiro do país para portos mais seguros.

A questão é quanto dinheiro foi saindo e por quais razões. Alguns analistas, incluindo economistas do Bank for International Settlements, argumentaram que a maior parte dessas saídas são saudáveis, a maioria envolvendo empresas que pagam suas dívidas externas. No entanto, o estudo do BIS, que estima que esses pagamentos foram responsáveis por quase um quarto dos US$ 163 bilhões em saídas que não são reservas no terceiro trimestre de 2015, se concentra em uma fatia muito estreita de tempo. Obrigações da dívida externa cresceram rapidamente no final de 2014 e no primeiro semestre de 2015, diminuindo drasticamente no terceiro trimestre.

Além disso, o que esses números oficiais não mostram são as saídas ocultas, disfarçadas principalmente como pagamentos de importações, que parecem ter criado um déficit em conta corrente de US$ 71 bilhões no mesmo trimestre, de acordo com dados de pagamentos bancários. Com efeito, empreendedores chineses estão pagando demais para os produtos que estão importando. Funcionários da alfândega chinesa registraram US$ 1,68 trilhão em importações no ano passado. Os bancos, por outro lado, afirmaram ter pago US$ 2,2 trilhões, por essas mesmas importações. Enquanto a balança de pagamentos oficial registra um superávit em conta corrente de US$ 331 bilhões em 2015, pagamentos e recebimentos dos bancos mostram um déficit de US$ 122 bilhões.

Pagar mais por bens e serviços importados é uma maneira inteligente para as empresas e os cidadãos chineses movimentarem dinheiro para fora do país clandestinamente. Digamos que um país estrangeiro exporta US$ 1 milhão de produtos para a China. Funcionários aduaneiros chineses registram corretamente US$ 1 milhão em importações. Mas quando o importador vai ao banco, usa ou documentação fraudulenta ou suborna um funcionário do banco para registrar um pagamento de US$ 2 milhões para a contraparte estrangeira. Presumivelmente, o US$ 1 milhão extra acaba em uma conta bancária privada. Enquanto algumas discrepâncias são esperadas em dados como este, o tamanho e o aumento constante na diferença desde 2012 implica que algo mais sombrio está acontecendo.

O momento também é revelador. A discrepância começou a crescer rapidamente em 2012, quando o crescimento atingiu um pico e as preocupações começaram a crescer entre os chineses ricos sobre a economia e uma transição política. Desde então, os pagamentos por importações falsas cresceram de US$ 140 bilhões a US$ 524 bilhões em 2015.

Examinar os pagamentos bancários com mais atenção e reforçar os controles de capital ajudaria a diminuir as saídas. Mas, assim como empresários descobriram este novo canal para mover dinheiro para o exterior, é quase certo que vão encontrar maneiras criativas para evadir outros limites que forem impostos.

A economia chinesa está sofrendo com o excesso de capacidade, com a desaceleração do crescimento e os riscos financeiros aumentando. Nem um corte nas taxas de juros, nem outro pacote de estímulo vai aliviar o pessimismo de longo prazo. Mas uma reforma - incluindo a reforma legal -, pode. Se os líderes da China querem evitar que o capital deixe o país, vão ter que lidar com as razões para essa fuga, não apenas erguer obstáculos em seu caminho.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.