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Investidores têm 99 formas de negociar e um grande problema

Alastair Marsh e John Detrixhe

15/04/2016 16h55

(Bloomberg) -- Se os investidores estão certos de que está ficando mais difícil negociar títulos, não é por falta de lugares para os compradores e vendedores se encontrarem.

O mercado de títulos agora tem 99 plataformas eletrônicas para facilitar a negociação de renda fixa, de Londres a Nova York e Cingapura, de acordo com a consultoria Alignment Systems. Novos locais estão sendo criados quando as regras mais rigorosas na regulamentação do capital e os avanços em tecnologia derrubam o papel dos traders de Wall Street que antes dominavam o mercado.

Os bancos que durante décadas dominaram a negociação de dívida corporativa, mantendo grandes estoques de títulos para atender aos pedidos dos clientes se afastaram da criação de mercados, abrindo a porta para start-ups e empresas de tecnologia experientes lutando por participação no mercado. O sucesso pode ser frustrado pela própria coisa que estão capitalizando e o maior problema do mercado: cada vez menor liquidez.

"Essas plataformas estão proliferando porque os bancos não estão tomando títulos em suas carteiras e isso está criando uma grande lacuna, apresentando uma grande oportunidade", disse Jon Mawby, gerente de fundo de títulos com sede em Londres na unidade GLG da Man Group, que administra US$ 31 bilhões em ativos. "O maior problema é que, para qualquer plataforma ser bem sucedida, precisa dos dois lados do mercado. Mas se os bancos não estão dispostos a comprar e se há um excesso de vendedores de crédito, então não há nenhuma oferta para os títulos e não se pode vender".

Uma infinidade de novas plataformas de dívida corporativa eventualmente será removida, de acordo com Carl James, chefe global de negociação de renda fixa da Pictet Asset Management em Genebra, e Stu Taylor, CEO de tecnologia de renda fixa da Algomi. Ambos esperam que menos de 10 sobrevivam.

"Parece provável que entre três e cinco anos acabaremos vendo aquisições e integração", disse Kevin McPartland, chefe de pesquisa de estrutura de mercado e tecnologia na Greenwich Associates.

A Bloomberg LP, controladora da Bloomberg News, também possui uma plataforma de negociação de títulos.

Corretores de títulos da Credit Suisse Group à Goldman Sachs Group dizem que a liquidez está secando nos mercados de dívida em reação às regras pós-crise destinadas a evitar outra catástrofe financeira e que está aumentando a turbulência nos mercados.

Isso foi exposto em dezembro, quando Third Avenue Management disse que a falta de liquidez dos títulos que ela possuía impossibilitava atender os pedidos de resgate. Impediu clientes de retirar ativos de seu Focused Credit Fund para evitar vendas com descontos.

Mercado utópico

Uma incompatibilidade de liquidez entre dívida que pode levar semanas para vender e fundos que permitem aos investidores retirarem seu dinheiro diariamente cria instabilidade, disse Robert Kaplan presidente do Federal Reserve Dallas na terça-feira.

Setenta e cinco por cento dos investidores de títulos de corporações institucionais dizem que liquidez originada por corretoras diminuiu nos últimos anos, e 55 por cento acham que a liquidez vai piorar ainda mais no próximo ano, de acordo com uma pesquisa da Greenwich Associates no mês passado com base em entrevistas com 58 investidores nos EUA e na Europa.

Ainda assim, o mercado pode estar procurando uma utopia onde a liquidez é tão abundante quanto era antes de 2008.

Norma histórica

"Renda fixa foi tradicionalmente um produto para manter até os bancos de investimento perceberem que poderiam ganhar dinheiro oferecendo o balanço deles para facilitar a negociação", disse James. "Agora que os balanços são limitados, a liquidez está revertendo para algo como a norma de 30-40 anos atrás. Contudo, mesmo que isso aconteça, o mercado ainda quer uma alta velocidade de negociação".

Que os criadores das plataformas de negociação procuram ganhar participação do mercado dos operadores não é nada de novo, mas a recente explosão na quantidade deles não tem precedentes.

Treze das 19 plataformas de títulos dos EUA que a Securities Industry and Financial Markets Association entrevistou para um relatório de fevereiro entraram no mercado de dívida corporativa nos últimos dois anos, de acordo com a associação de corretores.

"Tenho certeza que uma ou duas dessas iniciativas vai encontrar um nicho onde faz sentido", Gareth Coltman, chefe de gestão de produtos europeus na MarketAxess, disse em entrevista por telefone.