Venezuela acumula dívidas com prestadoras de serviços à PDVSA
(Bloomberg) -- Os investidores que tentam prever se a Venezuela deixará de pagar sua dívida externa há tempos atrelam suas apostas ao preço do petróleo bruto.
Mas o que está acontecendo atualmente nos campos de petróleo do país também oferece pistas de valor inestimável.
A Schlumberger, maior provedora mundial de serviços a campos de petróleo, disse na semana passada que reduzirá suas operações na Venezuela neste mês depois que a petroleira estatal PDVSA acumulou mais de US$ 880 milhões em contas a pagar. Outras empresas -- incluindo a Halliburton -- também disseram que a estatal deve dinheiro a elas.
Este é um detalhe que alguns investidores estrangeiros podem estar ignorando ao adquirirem títulos de dívida da Venezuela após a recuperação de 50 por cento do preço do petróleo em relação à maior baixa em 13 anos, registrada em fevereiro, segundo Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management. Embora alguns investidores estejam apostando que o salto aumentará as receitas do governo e ajudará a garantir os pagamentos de dívidas no futuro, o recuo de uma das principais provedoras de serviços à PDVSA poderia eliminar parte dos benefícios que a Venezuela obtém dos preços mais elevados, disse ele. As exportações de petróleo respondem por 95 por cento dos dólares de que a Venezuela necessita para pagar suas importações e quitar dívidas.
"A Venezuela sofre um golpe duplo, no qual os preços estão baixos e agora a produção poderia cair ainda mais", disse Zucaro. Enquanto a Arábia Saudita e a Rússia têm buscado ampliar a produção para compensar a queda do preço do petróleo, a produção da Venezuela simplesmente continua caindo, disse ele. "A equação da Venezuela é a seguinte: volume mais baixo vezes preço mais baixo é igual a uma receita ainda mais baixa. E isso resulta em problemas na hora de pagar um volume ainda maior de contas".
Os títulos da dívida da Venezuela deram um retorno médio de 19 por cento nos últimos três meses, segundo dados compilados pelo JPMorgan Chase. O preço de seus US$ 3 bilhões em dívidas em dólares para 2022 subiu 0,8 centavo, para 43,9 centavos de dólar, às 9h47 em Nova York, mais que os 33 centavos em fevereiro, quando o petróleo atingiu seu nível mais baixo desde 2003.
A PDVSA disse em um comunicado, em 12 de abril, que está cumprindo seus compromissos com a Schlumberger e que continuará realizando pagamentos de "várias formas". A Schlumberger ainda faz parte das operações da PDVSA e qualquer trabalho adicional será alocado para outras empresas com base em sua capacidade financeira, segundo o comunicado.
Aconteceu antes
A Schlumberger preferiu não realizar comentários adicionais sobre os pagamentos pendentes na Venezuela. A PDVSA não respondeu a um pedido de comentário.
Esta não é a primeira vez que empresas de serviços de petróleo reclamam sobre contas não pagas ou ameaçam se retirar da Venezuela. A Schlumberger alertou em 2013 que poderia reduzir os trabalhos, assim como outras operadoras estrangeiras que recuaram em meio à queda mundial do petróleo. A Halliburton disse em fevereiro que a Venezuela lhe deve mais de US$ 700 milhões.
Enquanto isso, a produção da Venezuela continua caindo. A produção foi, em média, de 2,5 milhões de barris por dia em fevereiro, 7,5 por cento menos que um ano antes, segundo dados compilados pela Joint Organisations Data Initiative, grupo que monitora a produção de petróleo e gás natural. Há 14 anos, a Venezuela bombeava 3,2 milhões de barris por dia.
Situação difícil
O anúncio da Schlumberger "demonstra a situação difícil da Venezuela: a PDVSA não conta com o fluxo de caixa para pagar as empresas de serviços para campos de petróleo", segundo um relatório de 12 de abril do Barclays. "E o país precisa das empresas de serviços de petróleo para maximizar a produção e ampliar o fluxo de caixa".
Em janeiro, a Schlumberger disse que havia fechado um acordo com a PDVSA no final do ano passado para receber certos ativos fixos no lugar do pagamento de cerca de US$ 200 milhões em contas a receber.
"A Schlumberger gostaria de ficar -- este é o negócio dela e ela está lá há quase 100 anos", disse Russ Dallen, sócio-gerente da Latinvest em Miami. "Mas ela precisa receber".
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