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Análise: Como solucionar a inflação baixa no Japão

Narayana Kocherlakota

03/05/2016 17h09

(Bloomberg) -- O banco central do Japão vem combatendo há muito tempo um transtorno que atualmente aflige grande parte do mundo desenvolvido: a inflação desnecessariamente baixa, que tende a acompanhar um crescimento econômico sem brilho. Se quiser que seus esforços sejam bem-sucedidos, talvez a instituição precise mirar acima de sua meta de inflação.

O Banco do Japão anunciou uma meta de inflação de 2 por cento em março de 2013. Desde então, houve algum avanço: o índice de preços ao consumidor aumentou a uma taxa anual média de 1,3 por cento na comparação com -0,3 por cento nos três anos anteriores. O resultado é melhor do que o obtido pelo Federal Reserve nos EUA, onde os preços subiram a uma taxa anual média de apenas 0,8 por cento desde março de 2013.

No entanto, o banco central japonês não conseguiu atingir suas metas. Em abril de 2013, a instituição anunciou que esperava chegar à meta de 2 por cento em "cerca de dois anos" - mas, mesmo agora, ainda há um longo caminho pela frente.

Talvez a falta de sucesso seja provocada pela falta de ambição da estratégia. Uma chave para conseguir uma inflação mais elevada é convencer a população e as empresas de que os preços começarão a subir mais rapidamente. O Banco do Japão quer que as expectativas de inflação subam para 2 por cento - no entanto, ele não quer que elas ultrapassem a marca de 2 por cento. Essa limitação poderia ser contraproducente, de acordo com um artigo recente escrito pelas professoras Kinda Hachem e Jing Cynthia Wu, da Faculdade de Administração Booth, da Universidade de Chicago.

Hachem e Wu afirmam que muitas pessoas projetam a inflação simplesmente observando a velocidade em que os preços subiram recentemente. Mas o banco central quer que elas prestem atenção no que ele diz que a inflação será - uma tarefa que seria muito mais fácil se a verdadeira inflação fosse muito diferente da que viram anteriormente. Por isso, o banco central pode se tornar mais efetivo se mirar inicialmente acima de sua meta de longo prazo para a inflação.

Imagine, por exemplo, que o Banco do Japão tivesse anunciado uma meta de 4 por cento em março de 2013. A verdadeira inflação durante os últimos três anos provavelmente teria sido mais alta - ensinando aos responsáveis pela fixação dos preços e dos salários que, se eles quiserem evitar erros que custam caro, eles deveriam prestar atenção no que o banco central diz que vai acontecer. Após construir essa credibilidade, o banco central poderia conduzir as expectativas com mais facilidade à sua meta de 2 por cento para o longo prazo.

Talvez seja útil considerar uma analogia. Imagine ter que jogar suas chaves em uma mesa que está a uns 90 centímetros de distância. Não é difícil. Mas agora imagine que, em sua trajetória, as chaves não podem ultrapassar o nível da altura da mesa. Agora ficou impossível atingir o objetivo de jogar as chaves na mesa.

Acredito que o Banco do Japão vai acabar chegando à sua meta de inflação. Desconfio, no entanto, que ele poderia chegar lá antes se estipulasse primeiro uma meta mais alta.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.