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Fundo de militares no Chile é investigado em caso de corrupção

Laura Millan Lombrana

10/05/2016 14h24

(Bloomberg) -- Militares chilenos gerenciam um fundo secreto para armas --poucos sabem quantos bilhões de dólares possui, onde está investido ou exatamente em que é gasto. Agora, um escândalo envolvendo apostas em um cassino local parece estar prestes a mudar tudo isso.

Promotores e jornalistas estão desvendando como pelo menos US$ 3,5 milhões do fundo foram desviados por um de seus administradores para financiar um estilo de vida de apostas, corridas de cavalos e viagens ao exterior. O jornalista Mauricio Weibel, que descobriu o escândalo e escreveu um livro a respeito, diz que o caso poderia ser o início de muitos.

"Ainda não sabemos o tamanho disso, mas sabemos que a corrupção é generalizada", disse Weibel. "Todos os dias vemos informações sobre casos maiores e a nossa sensação é que isso é apenas o começo de uma longa investigação sobre corrupção e fraude dentro das forças armadas".

O caso surge após uma série de outros escândalos no Chile sobre financiamento a campanhas políticas e propinas e mancha ainda mais a imagem de um país conhecido por sua honestidade.

Ameaça, também, o último legado de uma ditadura militar que antes controlava tudo o que acontecia no país sul-americano e que não admitia críticas à sua reputação. A imprensa e o sistema judicial se fortaleceram, o governo promete maior transparência e os militares são uma sombra do que foram.

'Abominação'

O fundo de armas é financiado por meio de uma lei elaborada durante a ditadura de Augusto Pinochet que garantiu aos militares 10% das receitas da produtora de cobre estatal Codelco.

Com a forte alta dos preços do cobre durante boa parte dos últimos dez anos, a fatia representava bastante dinheiro, até US$ 14,3 bilhões entre 2000 e 2015. Os militares decidiam como gastar o dinheiro, com pouca supervisão do governo.

Mesmo após atualizar o exército, a marinha e a força aérea na década passada, o fundo ainda poderia conter cerca de US$ 6,6 bilhões, ou quase 3% do PIB (Produto Interno Bruto) do Chile, segundo o deputado Jaime Pilowsky, presidente da comissão parlamentar que investiga a corrupção no exército.

"É uma abominação que em plena democracia esta lei opere sob tal sigilo", disse Pilowsky, em comunicado por escrito. "Não pode haver mais leis sigilosas trancadas em cofres, de difícil acesso até mesmo para parlamentares".

No começo

Uma investigação em andamento da promotora militar Paola Jofre revelou 2.500 faturas supostamente irregulares concedidas por administradores do fundo em menos de um ano.

Os promotores acusaram seis oficiais militares e outros três civis que foram contratados para trabalhar para o exército e produziram notas falsas. Pelo menos dois oficiais se declararam culpados.

Agora, a rede poderá ser ampliada. Promotores investigam como o ex-comandante-em-chefe do exército Juan Miguel Fuente-Alba conseguiu gastar quase US$ 400 mil viajando pelo mundo, ao mesmo tempo em que comprou e vendeu imóveis no Chile, segundo Weibel.