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Análise: Eleição esquenta debate sobre dívida dos EUA

Mohamed El-Erian

11/05/2016 14h36

(Bloomberg) -- Declarações recentes de Donald Trump, o possível candidato presidencial republicano, lançaram o holofote novamente sobre a dívida do governo federal dos EUA, de US$ 18 trilhões.

A atenção ocorre após um período de substancial declínio do déficit orçamentário, que se contrapôs às afirmações de que o país se dirigia rapidamente para o apocalipse da dívida.

A seguir estão os principais fatos a levar em conta na avaliação daquele que provavelmente será um debate político ruidoso e controverso sobre as dívidas:

  • Existem cinco maneiras principais de reduzir as dívidas: crescendo mais rapidamente, gerando assim mais recursos para o serviço da dívida e ao mesmo tempo mantendo e melhorando os padrões de vida; captando mais receitas tributárias e separando-as para o pagamento de dívidas; reduzindo os investimentos do governo e destinando os recursos para um maior serviço da dívida, incluindo pagamentos antecipados; não pagando termos contratuais das dívidas; e por meio de uma engenharia financeira, com captura de oportunidades de arbitragem de taxas de juros, recompra de dívidas baratas, melhoria da cesta de títulos emitidos e entrega de uma maior eficiência financeira.
  • Essas abordagens têm limitações práticas em sua capacidade de entregar grandes resultados no curto prazo. Como resultado, não existe uma forma realista e ordenada de eliminar o estoque de dívida nacional em poucos anos. O calote é extremamente caro e perturba os fluxos de capitais públicos e privados, além de aumentar sensivelmente os custos dos empréstimos. Existe um limite para o que a engenharia financeira -- uma estratégia gradual e oportunista -- é capaz de conseguir. Um ajuste fiscal significativo, por meio de impostos muito mais altos para quase todos ou cortes draconianos de despesas, pode devastar o crescimento e tornar o peso da dívida global ainda mais difícil de sustentar. E não é fácil gerar um surto imediato de crescimento, especialmente quando a economia mundial enfrenta obstáculos estruturais.
  • Levando em conta os outros problemas da economia pós-recessão, não é fácil argumentar que uma redução aguda da dívida nacional deveria ser uma prioridade imediata e independente e que não está presente entre as três metas econômicas urgentes para o próximo governo. Embora a trajetória de longo prazo da dívida deva ser vigiada de perto e contida, não há evidências de que o montante atual de dívida federal dos EUA seja um grande problema. Os custos dos empréstimos são extremamente baixos. Os EUA têm acesso a um financiamento abundante. E diferentemente de muitos países em desenvolvimento, historicamente o país quase não emite dívidas denominadas em moeda estrangeira.
  • O foco na dívida não deve desviar a atenção da necessidade de maior investimento em infraestrutura, tanto por meio de projetos públicos quanto com parcerias público-privadas. Os ganhos potenciais superam de longe o custo incremental do serviço da dívida, especialmente com taxas de juros tão baixas. A falta de infraestrutura já está prejudicando a produtividade, reduzindo o crescimento real e potencial e, em alguns casos, provocando dificuldades sociais.
  • A melhor maneira de lidar com a dívida do país é desencadeando o maior e mais inclusivo crescimento possível dos EUA e reforçando seu potencial futuro. Isso envolve a solução de entraves estruturais ao crescimento, não apenas eliminando déficits de infraestrutura, mas também por meio de uma reforma tributária pró-crescimento e de uma melhor reformulação do mercado de trabalho. Exige também que se contenha a piora excessiva da desigualdade, que agrava o problema da demanda agregada deficiente canalizando o lucro incremental para os ricos que têm uma menor propensão marginal a consumir. Além disso, deveriam ser tomadas medidas para expandir as opções para aliviar a carga esmagadora de dívida estudantil e para liderar um esforço de coordenação de política global mais efetiva.

Em vez do foco muito fechado sobre a dívida federal, os candidatos presidenciais precisam liderar um debate econômico nacional sobre a abrangente estratégia de crescimento que o Congresso deveria estar implementando.

Do contrário, a polarização política prejudicará ainda mais o desempenho do crescimento do país, minará o potencial futuro e transformará a dívida, hoje mero alimento para frases políticas de efeito, em um problema de difícil solução para as gerações futuras.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.