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Altos e baixos da bolsa chinesa causam ressaca econômica

Enda Curran e Justina Lee

07/06/2016 13h10

(Bloomberg) -- Quando o mercado acionário da China prosperava no início de 2015, os serviços financeiros atuavam como uma catapulta para uma economia que tropeçava.

Um ano se passou e quanta diferença: a negociação de ações recuou mais de 80% e o número de empresas vendendo ações pela primeira vez desabou 65%.

O esvaziamento do impacto do setor financeiro nacional sobre o crescimento econômico se soma a uma lista de dores de cabeça que inclui a demanda fraca por exportações e capacidade ociosa nas indústrias de aço e carvão.

"Para ter mais crescimento além do que já houve no ano passado, é preciso ter outra disparada do mercado acionário e isso não vai acontecer", disse Andrew Batson, economista da consultoria GaveKal Dragonomics, em Pequim. "Este é um dos motivos para a desaceleração do crescimento em serviços financeiros neste ano."

No ano passado, o setor financeiro contribuiu 1,2 ponto percentual ao crescimento de 6,9% da economia chinesa, que movimenta US$ 10 trilhões, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

No primeiro trimestre, essa contribuição diminuiu para 0,8 ponto percentual. Essa parcela pode encolher ainda mais no segundo trimestre, na comparação com um ano antes, quando o mercado acionário atingiu pico, de acordo com a BI.

O índice Shanghai Composite chegou ao maior nível em sete anos em 12 de junho do ano passado, quando o ciclo de afrouxamento monetário que começou no final de 2014 despejava dinheiro sobre as bolsas.

Em um mês, o índice despencou mais de 30%, levando o governo a tomar medidas drásticas, como a compra direta de ações por uma agência estatal e proibir as vendas por grandes acionistas. Investidores de varejo que estavam alavancados jogaram a toalha e o giro caiu para patamares não vistos desde 2014.

O índice de referência do mercado acionário chinês fechou com alta de 0,1%, enquanto o índice MSCI Ásia Pacífico avançou 1 por cento. A queda das bolsas também dificulta a redução do endividamento das empresas, calculado em mais de 1,5 vezes o PIB, o que poderia ser feito por meio da conversão de dívida em ações.

O setor de serviços financeiros continuará liderando o crescimento no longo prazo, uma vez que a expansão da renda familiar aumenta a demanda por seguros, produtos de gestão de patrimônio e pagamentos online.

O setor representava mais de 9% da economia no primeiro semestre de 2015, comparado a 5% no primeiro trimestre de 2007, de acordo com o Instituto Peterson para Economia Internacional.

"Ainda estamos naquele estágio em que o setor financeiro vai crescer mais rápido do que o PIB por causa do aumento da sofisticação financeira e da demanda por clientes", disse Hou Wei, analista da Sanford C. Bernstein & Co., em Hong Kong.

Mas é improvável uma recuperação das bolsas no curto prazo. As autoridades sinalizam maior vigilância na contenção do endividamento e dos riscos financeiros. O crescimento da economia chinesa deve se desacelerar ao longo do ano.

De acordo com estimativas compiladas pela agência de notícias Bloomberg, o PIB deve crescer 6,6% no segundo trimestre em relação a um ano antes, e 6,4% no quarto trimestre.