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Estagnação induz reavaliação de teorias fiscais e monetárias

Enda Curran, Jeff Black e Rich Miller

02/08/2016 14h50

(Bloomberg) -- Será que Larry Summers tinha razão?

Governos ao redor do mundo planejam novas rodadas de gastos para impulsionar o crescimento econômico e sustentar salários, implementando os conselhos do economista da Universidade Harvard e de outros que argumentam que as economias precisam do impulso, à medida que as sociedades envelhecem e a produtividade diminui.

Essa ideia está por trás da ascensão de defensores de incentivos, como o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, e da queda de defensores da austeridade, como o ex-ministro das Finanças do Reino Unido George Osborne.

O distanciamento do rigor orçamentário e da dependência da política monetária tem sido sutil e não é consenso. Canadá e Coreia do Sul estão entre os que lançam estímulos fiscais, enquanto Alemanha e outros países ainda aguentam firmes. A tomada de empréstimos para sustentar o crescimento na zona do euro ainda é vista com maus olhos.

Todavia, o humor global é diferente do que se observou durante a maior parte do tempo desde a última crise financeira. Em vez da doutrina de corte de gastos, a narrativa política atual destaca empregos de maior qualidade, investimentos e os perigos da desigualdade social. Em poucos lugares isso está mais evidente do que nos EUA.

No passado, o governo americano foi paralisado por um impasse acerca dos gastos públicos. Hoje nenhum dos candidatos à presidência tem muito a dizer sobre o déficit orçamentário.

Empurrãozinho

"Talvez comecem a surgir alguns fachos de luz na escuridão fiscal", disse Steven Barrow, responsável por estratégia para os países do G-10 no Standard Bank, em Londres. "A economia global precisa de um empurrãozinho na demanda e a política fiscal provavelmente é o caminho. A política monetária simplesmente não está fazendo isso."

A Ásia lidera o movimento. O Japão prepara uma rodada de estímulos de 28 trilhões de ienes (US$ 273 bilhões). Embora boa parte do montante se refira a empréstimos e projetos de longo prazo sem grandes implicações imediatas para o crescimento econômico, o pacote também deve incluir novos gastos.

Na terça-feira, o gabinete de Abe aprovou gastos adicionais de 4,6 trilhões de ienes neste ano destinados à melhora de instalações portuárias para receber navios de passageiros e à aceleração da construção de uma linha de trem de levitação magnética de alta velocidade.

A China, segunda maior economia do mundo, está injetando crédito barato em bancos, empresas e governos locais para estimular o crescimento. Somente em junho, o saldo de crédito e financiamento mais amplo do país aumentou US$ 244 bilhões. A Coreia do Sul anunciou um orçamento suplementar de 11 trilhões de wons (US$ 9,9 bilhões) de apoio ao mercado de trabalho.

Recado de Lagarde

Para a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, houve consenso na última reunião do Grupo dos 20 em julho de que é preciso fazer mais para tratar da desigualdade social e das reações contra a globalização. Isso significa mais gastos.
 
O afrouxamento da política fiscal nas economias mais avançadas pode compensar, na opinião da empresa de pesquisas Oxford Economics, do Reino Unido. Suas simulações indicam que um aumento nos investimentos públicos equivalente a 1% do PIB (Produto Interno Bruto) durante dois anos elevaria o nível do PIB em países individuais do Grupo dos Sete entre 0,6% e 1,4% até 2017.

Se esses investimentos forem bancados com mais empréstimos, nunca o momento foi tão receptivo nos mercados globais de renda fixa, uma vez que os programas de compra de ativos do Japão à zona do euro garantem rendimentos baixos.