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Representante da Keppel diz que CEO autorizou pagar propina

Sabrina Valle

03/08/2016 16h06

(Bloomberg) -- Os problemas da Keppel Corp. no Brasil continuam crescendo.

A maior construtora de sondas de petróleo em mar do mundo viu a demanda despencar no Brasil, um de seus mercados mais importantes. Uma de suas principais clientes, a Sete Brasil Participações, pediu recuperação judicial. E, no mês passado, o ex-representante da Keppel no Brasil acusou executivos do primeiro escalão do grupo em Cingapura de tê-lo autorizado a pagar propinas para conseguir contratos com a Petrobras.

Zwi Skornicki, ex-representante comercial terceirizado da Keppel no Brasil, disse a um juiz que cinco executivos, inclusive o atual CEO da Keppel Offshore & Marine, Chow Yew Yuen, o autorizaram a subornar funcionários da Petrobras e políticos em troca de contratos com a Petrobras, muitas vezes de mais de US$ 1 bilhão. A Keppel negou as acusações em um comunicado de 24 de julho, disse que tem tolerância zero com atividades ilegais e que tomará "todas as medidas necessárias para erradicar esse tipo de conduta, se descoberta".

Os outros executivos da Keppel que supostamente sabiam e autorizaram as propinas são Tong Chong Heong, ex-executivo sênior da Keppel Corp.; Tay Kim Hock, ex-CEO da Keppel Fels Brasil; Tay Kim Hock, atual CEO da Keppel Fels Brasil; e Choo Chiau Beng, ex-CEO da Keppel Corp., segundo depoimento de Skornicki dado em 21 de julho ao juiz Sérgio Moro, que comanda a Operação Lava Jato. O depoimento foi publicado no site do tribunal como parte do expediente judicial.

"O relacionamento da agência com o sr. Skornicki havia sido interrompido. Em vista da admissão de que fez pagamentos ilegais, encerraremos seu relacionamento com a agência", disse a Keppel, em resposta por e-mail, em 29 de julho.

Não foi possível entrar em contato com os cinco executivos por meio da Keppel.

Choo era embaixador não-residente de Cingapura no Brasil na época do suposto pagamento de propinas. A embaixada preferiu não comentar o assunto. Skornicki disse que possuía firma própria, montada dentro do escritório da Keppel no Brasil, e um contrato formal para representar a empresa, com autonomia suficiente para assinar contratos com a Petrobras em nome da Keppel.

Skornicki apresentou a Moro seu contrato com a Keppel, que prevê o pagamento de uma porcentagem dos acordos para ele. Ele disse que usava as mesmas contas por meio das quais recebia comissões formais da Keppel para subornar autoridades.

As propinas tiveram como destino funcionários da Petrobras e pessoas como João Vaccari, que era tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), disse Skornicki. O PT governou o Brasil de 2003 até maio passado, quando a presidente Dilma Rousseff foi suspensa depois que o Congresso iniciou o julgamento do processo de impeachment contra ela por acusações não relacionadas a este caso. Na Lava Jato, descobriu-se que líderes políticos da base aliada do governo usaram sua influência para escolher altos funcionários da Petrobras, que posteriormente coletavam propinas e dividiam os recursos com seus padrinhos políticos.

Vaccari foi condenado em 2015 a 15 anos de prisão por corrupção e por administrar propinas para o PT. O advogado de Vaccari, Luiz D'Urso, negou irregularidades e disse que a sentença de seu cliente foi baseada apenas em depoimentos de delação premiada, sem provas de ilegalidades.

A Petrobras disse diversas vezes que foi vítima de alguns funcionários desonestos e que está colaborando com as autoridades.

Os departamentos jurídicos da Keppel em Cingapura e no Brasil revisaram todos os contratos, disse Skornicki no tribunal. A Keppel foi citada na Lava Jato pela primeira vez em fevereiro de 2015 e Skornicki afirma também que pagou propinas para conseguir contratos com a Sete Brasil, que interrompeu pagamentos a estaleiros no ano passado e entrou com pedido de recuperação judicial em abril após ser implicada na investigação de corrupção.

A Sete não respondeu a um pedido de comentário.