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Argentina nova e melhorada ainda é país difícil para investir

Carolina Millan

04/08/2016 13h54

(Bloomberg) -- Quando Mauricio Macri assumiu a presidência da Argentina, em dezembro, os investidores comemoraram o fato como um ponto de inflexão na história de altos e baixos do país, um movimento que faria com que os fluxos de capitais voltassem ao país sul-americano.

Então por que, oito meses depois, há tantos estrangeiros esperando para ver o que acontece?

É simples, diz Geoffrey Pazzanese, que administra US$ 325 milhões em ações do mercado emergente para a Federated Investors em Nova York. Apesar de todo o discurso de uma Argentina mais favorável ao mercado, ainda é muito difícil para os estrangeiros comprar ações e títulos locais, disse ele.

"O fato de a Argentina ser um mercado de fronteira não vai me impedir de investir lá -- mas os controles de capital sim", disse Pazzanese. "Nossa equipe não pode ter posições que não podemos retirar" imediatamente.

De qualquer maneira, a nova Argentina está a anos luz de distância de sua encarnação pré-Macri. Seis meses após sua posse, Macri já tinha eliminado os controles cambiais mais onerosos e chegado a um acordo para acabar com uma batalha de dez anos com os detentores de títulos não reestruturados (holdouts) do calote de 2001.

Mas ainda existem restrições residuais. Se você quiser comprar títulos locais, por exemplo, você tem que ter uma conta bancária na Argentina. Isso não é uma tarefa fácil. E nem pense em entrar para obter um lucro rápido.

Os fluxos de dinheiro das transações financeiras estrangeiras precisam ficar no país durante pelo menos 120 dias. Embora esse prazo seja menor do que o de um ano inteiro, como era no governo da antecessora de Macri, Cristina Kirchner, a Argentina parece ser o único país, entre seus maiores pares regionais, com algum tipo de limite, de acordo com relatórios de países da Deloitte.

Macri afirma que parte disso é intencional. "Fluxos financeiros que entram e saem não me ajudam muito", disse ele à Bloomberg TV no mês passado, no exclusivo resort de esqui San Valley, em Idaho, nos EUA, uma das muitas escalas de sua turnê mundial para vender a segunda maior economia da América do Sul a investidores internacionais.

Por mais que compradores de ações e títulos queiram que todos os controles cambiais sejam eliminados o mais rápido possível, é provável que Macri tenha razão em esperar, disse Christian Lawrence, estrategista do Rabobank em Nova York.

"O peso, que era a moeda menos volátil da região, passou a ser a mais volátil. E com as taxas de juros no nível em que estão, se não houvesse nenhuma norma, como essa dos 120 dias, enormes fluxos de pessoas entrariam para obter taxas de juros gigantescas", disse ele. "Uma eliminação completa é simplesmente impraticável".

Contudo, isso tem um preço. Dos oito gestores de recursos entrevistados para esta reportagem, sete disseram que estão segurando os investimentos, principalmente por causa dos controles, mas também por causa da inflação alta e da preocupação de que o tom favorável ao mercado possa mudar novamente após as eleições legislativas do fim de 2017.