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Análise: Economia dos EUA precisa seguir criação de empregos

Mark Whitehouse

05/08/2016 15h16

(Bloomberg) -- O mercado de trabalho dos EUA registrou um desempenho impressionante em julho. Agora só falta a economia acompanhar o ritmo.

O último relatório de empregos sugere que as preocupações com o crescimento global e com a decisão do Reino Unido, em referendo, de deixar a União Europeia não pesaram muito sobre a geração de empregos nos EUA.

O mercado de trabalho cresceu um total estimado de 255 mil empregos em julho, trazendo a média de três meses para 190 mil --muito mais que o suficiente para compensar o crescimento natural da mão de obra.

A taxa de desemprego se manteve estável em baixos 4,9% e o salário médio por hora subiu US$ 0,08, para US$ 25,69, o que sugere que a demanda por trabalhadores está gradualmente se traduzindo em um salário mais elevado.

A economia como um todo, contudo, não acompanhou o ritmo. No total, os trabalhadores do setor privado dos EUA ganharam cerca de 4,3% a mais em julho do que um ano antes graças à combinação de expansão do emprego e aumento dos salários. Contudo, o produto interno bruto teve uma expansão de apenas 2,4% (em termos nominais em dólares) no ano até junho.

Por que essa divergência? Não é que os trabalhadores não venham gastando a renda extra: as despesas de consumo subiram 3,7% em junho em relação ao ano anterior (de novo, em termos nominais).

O ponto é que as empresas estão adiando todos os tipos de investimentos, de computadores a novos edifícios. O investimento privado caiu drasticamente no período de três meses até junho e os dados mais recentes de gasto de capital sugerem que a fragilidade provavelmente continuará.

Se as empresas estão confiantes o suficiente para contratar, por que não estão investindo dinheiro na expansão? Uma explicação é que os trabalhadores são baratos e a capacidade ociosa é abundante, por isso as empresas ainda não tiveram muito incentivo para destinar recursos a novos projetos.

Outra possibilidade, relacionada à primeira, é que com as taxas de juros baixas e a busca dos investidores por retornos maiores, os executivos corporativos preferem ampliar os lucros por ações devolvendo dinheiro aos acionistas na forma de dividendos e de recompras de ações.

Independentemente do motivo, a falta de investimento deixa a economia muito dependente do gasto de consumo, o que, por sua vez, torna a continuidade das contratações absolutamente fundamental para oferecer a renda necessária para manter o consumo.

Enquanto isso não mudar, cada novo relatório de emprego poderá provocar um choque. Trata-se de uma situação desconfortável para a cúpula do Federal Reserve, o banco central dos EUA, o que pode gerar algumas surpresas desagradáveis antes de os americanos elegerem seu novo presidente, em novembro.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.