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Grande ilusão do mercado de títulos dos EUA é revelada

Brian Chappatta, Andrea Wong e Shigeki Nozawa

08/08/2016 14h46

(Bloomberg) -- Para Kaoru Sekiai, obter retornos constantes para seus clientes no Japão era simples: comprar títulos do Tesouro dos EUA.

Se comparados às opções locais de baixo risco, como a dívida do governo japonês, os títulos do Tesouro dos EUA há muito ofereceram os rendimentos mais altos. E era assim até depois de somar o custo de cobertura contra os altos e baixos do dólar -- uma prática comum entre as instituições que investem internacionalmente.

Era algo "óbvio desde sempre", disse Sekiai, gestor de recursos da DIAM, que tem sede em Tóquio e administra cerca de US$ 166 bilhões.

Essa obviedade agora é coisa do passado. No mês passado, os rendimentos das notas dos EUA com vencimento em 10 anos se tornaram negativos para os compradores japoneses que pagam para eliminar de seus retornos as flutuações cambiais, algo que não acontecia desde a crise financeira. A situação é ainda pior para quem investe da zona do euro e está obtendo retornos abaixo de zero com os títulos do Tesouro dos EUA pela primeira vez na história.

Por essa mudança inesperada, a velha noção de que os EUA são um refúgio contra os yields negativos do Japão e da Europa não passa de uma ilusão. Como todo o mundo, de Jeffrey Gundlach a Bill Gross, está alertando para uma bolha nos títulos, isso poderia acabar derrubando a demanda estrangeira recorde pelos títulos do Tesouro, que foi a base de seus ganhos aparentemente invencíveis nos últimos anos.

"As pessoas gostam de coisas simples", disse Jeffrey Rosenberg, chefe de estratégia de investimento para renda fixa da BlackRock, que administra US$ 4,6 trilhões. "Mas não há nada que não exija esforço. É simplesmente impossível falar de diferenciais de yield sem falar de diferenciais cambiais".

Sekiai, da DIAM, vem evitando os títulos do Tesouro dos EUA desde abril, um mês após os ativos estrangeiros de dívida americana atingirem um recorde. Ele está preferindo os títulos da França e da Itália, que "oferecem certo grau de rendimento e têm custos de cobertura cambial baratos". Essa mudança condiz com os dados mais recentes do Departamento do Tesouro dos EUA, que mostram que a demanda de investidores estrangeiros em abril e maio foi a mais fraca em um período de dois meses desde 2013.

O fato de que os yields das notas do Tesouro dos EUA com vencimento em 10 anos continuem muito superiores aos do Japão ou da Alemanha explica em parte por que os estrangeiros estão tendo tanta dificuldade para de fato lucrar com a diferença. As taxas de juros negativas fora dos EUA provocaram um aumento da demanda por dólares e por ativos em dólar, o que elevou o custo de entrada e de saída da moeda à mesma taxa cambial a níveis raramente vistos antes.