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Vejam e salvem leões da Namíbia antes que seja tarde demais

Nikki Ekstein

16/08/2016 14h22

(Bloomberg) -- Se quiser saber como é a superfície de Marte sem sair do planeta Terra, vá para a Namíbia. Aqui, as montanhas da cor do arenito se misturam a cânions, dunas e planícies desérticas. Até onde a vista alcança, tudo está pintado de ferrugem, âmbar e barro.

A Costa dos Esqueletos, perspicazmente batizada, não ajuda quem quiser admirar os principais animais de safári. Os elefantes e rinocerontes que vivem por aqui não se parecem com os da África do Sul ou da Tanzânia. A vida selvagem se adaptou para lidar com a escassez de recursos do deserto, desenvolvendo características exclusivas que diferenciam esses animais de seus similares.

Mas ver um leão adaptado ao deserto na Namíbia é como ver um tigre siberiano na China ou um leopardo-das-neves no Himalaia. Trata-se de uma ocasião rara que justifica a viagem. Diferentemente dos leões convencionais, suas pelagens grossas são capazes de suportar variações drásticas de temperatura e eles sobrevivem sem uma gota d'água -- estes leões obtêm toda a hidratação de que precisam de suas presas. Segundo especialistas que trabalham localmente, restam apenas 150 deles na Namíbia. Estimativas da União Internacional para Conservação da Natureza indicam que eram 795 há apenas 10 anos. Com recursos tão limitados no deserto tanto para os humanos quanto para os animais, ambas as comunidades têm invadido os territórios uma da outra, o que gera conflitos antes inexistentes.

É pequena a consciência global em relação a essas criaturas tão resistentes. Por isso, em homenagem ao Dia Mundial do Leão, comemorado na semana passada, a emissora de TV Smithsonian Channel transmitiu um novo documentário sobre cinco filhotes de leão restantes, apontados como a chave para as futuras gerações.

Para garantir sua sobrevivência, os chamados "cinco mosqueteiros" receberam colares e foram monitorados pelo conservacionista Philip Stander, que colabora com a empresa Wilderness Safaris. Ele é conhecido por estudar cada movimento dos filhotes a uma distância saudável e chegou ao ponto de tocar música alta de seu veículo 4x4, em uma ocasião em que os leões se aproximaram do gado de um vilarejo, para impedir que fossem atacados. Ele também criou iniciativas educacionais para ajudar os fazendeiros a evitar conflitos com animais selvagens.

Porém, os esforços heroicos de Stander não foram suficientes. Há duas semanas, um dos leões atacou o gado de um sitiante e foi morto a tiros. Na semana passada, mais três foram encontrados envenenados nas proximidades. No decorrer de poucos dias, os cinco mosqueteiros foram reduzidos a apenas um.

Quase imediatamente, o último sobrevivente, Tomakas, foi deslocado para a concessão de Palmwag, próxima ao Campo de Hoanib, da Wilderness Safaris. Sua proteção -- e a dos leões do deserto restantes -- se tornou uma das mais urgentes preocupações conservacionistas.

Se Tomakas é um símbolo de esperança para sua espécie, seu novo lar é um guia para a conservação liderada por comunidades. Aqui, os moradores se beneficiam diretamente do turismo. A Wilderness Safaris arrenda terras e divide receita com três vilarejos próximos, tornando-os diretamente interessados na conservação. Cada visitante que chega aumenta o valor da vida selvagem que vem ver. Onde há turismo responsável, a mortalidade dos leões parece diminuir -- os leões, no fim das contas, geram mais valor para os habitantes do que seus bois e vacas.

Em outras palavras: é provável que o turismo seja a última chance do leão adaptado ao deserto. Existem também elefantes e rinocerontes adaptados ao deserto a considerar. E com a abertura de acampamentos cinco estrelas pioneiros em alguns dos lugares mais remotos da Namíbia, é possível ajudar a salvar muitos desses animais sem abrir mão do conforto.