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Países ibéricos trilham caminhos diferentes rumo à recuperação

Maria Tadeo

23/08/2016 09h07

(Bloomberg) -- Espanha e Portugal podem ter passado pelo mesmo sofrimento durante a crise da dívida da zona do euro, mas no que diz respeito à recuperação, os dois países estão adotando caminhos diferentes.

Enquanto as taxas de crescimento da Espanha estão entre as mais fortes da região formada por 19 países, com a confiança nas perspectivas econômicas impulsionando uma forte alta nos investimentos, Portugal está pagando o preço por recuar em relação a reformas fundamentais. É o que diz Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank.

A divergência entre os vizinhos ibéricos começou em 2015, quando o Partido Socialista português ganhou do governo conservador com a ajuda de grupos de extrema esquerda. Desde então, o primeiro-ministro António Costa elevou o salário mínimo, ampliou o número de feriados públicos e aumentou o salário dos servidores. O crescimento perdeu força e os investimentos caíram.

A agência de classificação de crédito DBRS emitiu o último sinal de alerta recentemente ao mencionar sua preocupação com a fragilidade econômica e com a vontade política para realizar reformas. Trata-se de um problema, porque a canadense DBRS é a única das quatro maiores agências de classificação que considera os títulos soberanos de Portugal aptos para investimento. A perda desse status tornaria a dívida do país inelegível para o maior programa de estímulos do Banco Central Europeu -- a flexibilização quantitativa.

Enquanto isso, na Espanha, a economia ignorou o impasse político que deixou o país sem governo por oito meses. Apesar do cenário político complicado após duas eleições inconclusivas, o investimento subiu levemente e a geração de empregos se recuperou, ajudando a manter as taxas de crescimento em cerca de 3%, duas vezes maior que a da zona do euro e o triplo da portuguesa.

Mas a Espanha também tem desafios pela frente. O primeiro-ministro em exercício, Mariano Rajoy, que busca um voto de confiança em 31 de agosto para garantir um segundo mandato, ainda não conta com apoio suficiente no Parlamento. A perda da votação poderia obrigar o país a realizar uma terceira eleição, desviando a atenção da implementação de reformas estruturais tão necessárias e da redução do déficit excessivo.