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Bancos centrais ficam cansados do ouro e reduzem compras

Camilla Naschert e Eddie van der Walt

30/08/2016 13h00

(Bloomberg) -- Os maiores proprietários de ouro estão ficando cansados do metal.

Os bancos centrais -- que detêm cerca de 32.900 toneladas do lingote -- reduziram em 40 por cento suas compras durante o trimestre finalizado em junho, em comparação com o mesmo período do ano passado, para o menor nível desde 2011, mostram dados do Conselho Mundial de Ouro compilados pela Bloomberg. Foi a terceira queda trimestral consecutiva, a sequência mais longa desse tipo em pelo menos cinco anos.

As compras diminuíram em 2016 porque os preços estavam em alta e registraram o maior ganho em um primeiro semestre dos últimos 40 anos. Os bancos centrais de países em desenvolvimento vêm adquirindo menos ouro porque a quantidade de dinheiro que eles obtêm com as exportações diminuiu, disse John Nugee, que foi gerente das reservas do Banco da Inglaterra na década de 1990.

"Os fluxos desaceleraram drasticamente", disse Thorsten Proettel, analista de commodities do Landesbank Baden-Wuerttemberg em Stuttgart. "Este poderia ser um fator de muita importância para o mercado".

Os bancos centrais foram uma influência otimista para o ouro, especialmente depois da crise financeira, quando os preços subiram e atingiram um pico recorde em 2011. Antes disso, as reservas soberanas de ouro vinham caindo durante quase duas décadas. Mas os bancos centrais foram compradores líquidos todos os anos desde que interromperam a queda forte em 2008 e, até junho, tinham a maior quantidade acumulada em quase 15 anos.

Essa desaceleração recente pode ser um sinal de cansaço dos compradores, especialmente no caso dos países com menos exportações. Até abril, o comércio mundial como um todo caiu para o patamar mais baixo desde 2010, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, e as reservas cambiais registram baixa de quase 8 por cento em relação ao pico de dois anos atrás, mostram dados compilados pela Bloomberg.

Um ótimo exemplo é a China, que reuniu a quinta maior reserva de ouro do mundo enquanto se tornava a segunda maior economia do planeta.

O enfraquecimento das exportações está limitando as receitas que o governo investe em ativos como títulos do Tesouro dos EUA e ouro. O excedente em conta-corrente, que havia chegado ao maior valor em seis anos em meados de 2015, caiu mais de um quarto nos últimos 12 meses. As reservas cambiais, de cerca de US$ 4 trilhões em 2014, estão um quinto menores.

Em maio, a China não registrou compras de ouro. Após ter voltado a comprar em junho, o ritmo do banco central em julho foi o segundo mais lento em um ano.

"Os bancos centrais dos mercados emergentes estavam comprando ouro para equilibrar suas crescentes reservas até 2015", disse Nugee, que atualmente dirige sua própria empresa em Londres, a Laburnum Consulting, especializada em economia e geopolítica. "Mas neste último período, quando as reservas caíram um pouco e se estabilizaram, eles têm menos margem para continuar comprando".