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Análise: Temer e o desafio de repetir Itamar na economia

Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Josué Leonel

31/08/2016 16h36

(Bloomberg) -- Michel Temer assume nesta quarta-feira (31) como presidente efetivo repetindo Itamar Franco, o primeiro –e até ontem único caso de– vice a assumir no lugar de um presidente eleito e afastado em processo de impeachment no Brasil.

Visto inicialmente com má vontade no mercado, Itamar acabou surpreendendo positivamente. Temer já começa com expectativas elevadas. Resta cumpri-las.

Além de manter o programa de privatização e a abertura da economia herdados do governo Collor, Itamar colocou na Fazenda o tucano Fernando Henrique Cardoso, que comandou a equipe que criou o Plano Real, pondo fim à hiperinflação. O sucesso do plano colocou FHC na condição de candidato imbatível à sucessão de Itamar.

Se a história se repetir, o nome do Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que assim como FHC em 1992 não é do mesmo partido do presidente, pode ganhar força como alternativa para 2018. A avaliação é do cientista político Ricardo Sennes, da Prospectiva Consultoria.

Para ele, Temer vai tentar chegar à eleição com um nome que possa unir as principais forças do seu grupo político, que incluem, além do PMDB, partidos como o PSD e o DEM e parte do PSDB.

Reformas

Para Meirelles se viabilizar, porém, as reformas precisam dar certo e a economia sair da recessão, entrando em 2018 com crescimento ao menos razoável e inflação na meta.

A emenda que estabelece o teto para os gastos deve ser a prioridade do governo Temer após a aprovação do impeachment, diz Sennes. "O governo vai jogar bastante ficha nesta votação".

A reforma da Previdência também será prioritária e pode ser enviada ainda este ano, mas a aprovação deve ficar para 2017. Concessões ligadas à infraestrutura, como ferrovias, portos e aeroportos, e mudanças no pré-sal também estão entre as ações do governo que poderão repercutir bem entre os investidores, diz.

A implementação das reformas é fundamental para que o mercado tenha um novo rali depois dos ganhos que anteciparam o impeachment, diz Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners.

O primeiro teste pode não ser propriamente uma reforma, mas evitar o reajuste dos salários do STF. "Se o governo vetar, será um sinal forte de que será menos leniente com os gastos do que vinha sendo antes".

Qualquer tropeço, contudo, tende a ser visto com menos complacência pelos investidores, diz o economista da INVX. "A trégua do mercado será menor."

Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs em Nova York, concorda que a capacidade de Temer acelerar o ajuste fiscal será crucial para a economia e o mercado.

"Hesitações e/ou fracasso em obter avanços tangíveis em direção a uma consolidação fiscal poderão detonar uma dinâmica adversa nos mercados", disse o economista em relatório após a votação que sacramentou o afastamento de Dilma e a ascensão de Temer como presidente.