IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

BCE está perto de anunciar mais estímulos, criando seu QE3

Jeff Black e Andre Tartar

05/09/2016 11h15

(Bloomberg) -- Se a primeira tentativa não der certo, a alternativa é aumentar e aumentar os esforços novamente.

Com a inflação na zona do euro em praticamente zero há quase dois anos e a decisão do eleitorado britânico de sair da União Europeia ameaçando a recuperação da região, os economistas apostam que o Banco Central Europeu vai ampliar o afrouxamento quantitativo pela segunda vez. Tal decisão estenderia o programa de compra de ativos além da data prevista de encerramento, de março de 2017, e acima da meta de 1,7 trilhão de euros (US$ 1,9 trilhão).

Mais de 80 por cento dos economistas sondados pela Bloomberg esperam essa decisão e parcela semelhante prevê que o BCE vai alterar as regras de compra para que não fique sem papéis sobrando para comprar. Quase metade dos que responderam à pesquisa antecipa decisão nesta quinta-feira, quando o conselho que comanda a instituição se reunirá em Frankfurt. Praticamente todo o resto espera um anúncio na reunião de outubro ou dezembro.

A posição do presidente do BCE, Mario Draghi, lembra aquela do então presidente do banco central americano, Ben Bernanke, que em 2012 anunciou a terceira rodada de compra de ativos (o chamado QE3) e prometeu continuar enquanto fosse necessário. Draghi tem dito que as autoridades vão manter os estímulos até haver ajuste sustentado na trajetória de inflação - e os sinais são de que isso vai demorar mais do que seis meses adicionais.

"As condições para retirada do estímulo monetário provavelmente não serão cumpridas em março do ano que vem", disse Kristian Toedtmann, economista do DekaBank, em Frankfurt. "Não há razão para adiar essa decisão."

A inflação na zona do euro ficou em 0,2 por cento nos 12 meses até agosto, mesma variação de julho, enquanto o núcleo da inflação se desacelerou. Dados divulgados pela HIS Markit na segunda-feira mostraram que uma referência do crescimento econômico no bloco de 19 nações se encontra no ritmo mais fraco em 19 meses. O BCE apresentará novas projeções em 8 de setembro. As projeções da instituição frequentemente baseiam decisões de mudança na política monetária.

Quanto mais o BCE compra, maior o risco de que a escassez de ativos se transforme em real indisponibilidade. Para evitar isso, os economistas acreditam que a extensão do QE precisará ser acompanhada de alterações nas regras que o BCE impôs para suas compras. Trata-se de um debate potencialmente difícil dentro do conselho da entidade, que define parâmetros para evitar preocupações relativas a distorções do mercado, financiamento monetário e compartilhamento de riscos.

A primeira alteração seria aumentar a parcela máxima de cada emissão de títulos que o BCE pode comprar, de acordo com a pesquisa. Em segundo lugar viria o abandono da regra que determina que os ativos não são elegíveis se tiverem rendimento inferior ao da taxa básica de depósitos, atualmente em menos 0,4 por cento. Uma minoria dos participantes afirma que o banco central pode desistir de vincular alocações nacionais no QE ao tamanho de cada economia, procedimento conhecido como "chave de capital".

"A retirada do piso da taxa de depósito seria um movimento potente e também politicamente menos complicado do que um distanciamento da chave de capital", afirmou Holger Sandte, analista-chefe para Europa da Nordea Markets, em Copenhagen. "O BCE precisará mudar os parâmetros do QE em breve, mas provavelmente vai esperar até dezembro antes de empurrar alguns integrantes do conselho mais para dentro da zona de desconforto."