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Analistas destacam principais pontos de rara entrevista de Putin

Olga Tanas e Henry Meyer

06/09/2016 15h11

(Bloomberg) -- Na quinta-feira, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu uma rara entrevista ao editor-chefe da Bloomberg, John Micklethwait. A conversa de quase duas horas em Vladivostok, cidade portuária russa no Pacífico, abordou diversos assuntos, como a eleição presidencial nos EUA, a guerra civil da Síria, os preços do petróleo e a venda de ativos estatais.

Estes são os destaques mais importantes, segundo analistas, investidores e acadêmicos:

Críticas a Trump e Clinton por táticas de 'choque' na campanha

Joerg Forbrig, diretor sênior de programas do German Marshall Fund dos EUA em Berlim:

"Aqui basicamente ele está dizendo: vejam o quanto a democracia americana se degenerou. E sem ter que dizê-lo explicitamente, isso obviamente contrasta muito com a realização sempre ordenada das eleições na Rússia".

Relação com Hillary Clinton e acusações de que hackers russos invadiram emails do comitê Democrata. Putin nega envolvimento do país com o ocorrido.

Tim Ash, estrategista da Nomura International em Londres:

"Houve um período em que qualquer pessoa, menos Hillary teria sido bom para ele. Talvez agora isso tenha mudado, porque ele considera Trump imprevisível, alguém que poderia ser difícil de lidar". "De certo modo, pode ser que ele simplesmente esteja tentando manter uma situação amena. Ele está tentando dar um pouco mais de impulso à questão. Está bem claro que Putin não é amigo de Hillary Clinton, ele considera que ela é linha dura, e ela é uma figura respeitada na política internacional que o conhece muito bem. Em parte, é uma crítica contra ela".

"Para o povo russo, ele está dizendo: 'vejam as democracias ocidentais, vejam os ideais ocidentais. Os políticos têm dupla moral, não se pode confiar neles'. As eleições na Duma estão chegando, então essencialmente ele está marcando o contraste de que 'nós somos confiáveis, isso nunca aconteceria na Rússia'".

Proposta de negociar de novo um teto à produção de petróleo

Mike Coleman, fundador do hedge fund Merchant Commodity, com sede em Cingapura:

"O congelamento da produção não adianta nada. É um congelamento em um nível de produção recorde. Isso é algo mais simbólico, indica uma reaproximação entre a Arábia Saudita e o Irã. Mas para ter impacto significativo nos preços, é necessário reduzir a produção".

Amizade e disputa territorial com o Japão

James Brown, professor associado da Universidade Temple em Tóquio, que publicou um livro sobre a disputa territorial neste ano:
"É uma mensagem muito clara para os japoneses de que os russos estão fascinados em fazer negócios com eles, com a viagem de Abe para Vladivostok, mas não há nenhuma mudança na questão territorial".

Avanço para um acordo na Síria

Ghanem Nuseibeh, fundador da consultoria Cornerstone Global Associates, com sede em Londres:
"Os EUA e a Rússia estão chegando a um ponto onde eles querem muito resolver a crise da Síria. Acho que ambas as partes terão que ceder e acho que é neste sentido que esta questão está caminhando".

Venda de grandes petroleiras

Oleg Kouzmin, economista-chefe para a Rússia da Renaissance Capital em Moscou:
"O fato de o presidente ter mencionado todas as alternativas possíveis de privatização indica que o assunto está sendo discutido ativamente e está na programação".

"A privatização ajuda a cobrir o déficit orçamentário, mas também corresponde à estratégia de reduzir a participação do Estado na economia. E como essas duas metas coincidem e Putin respondeu em detalhe sobre a venda de ativos estatais, isso nos diz que agora as chances de privatização são mais altas".