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0,01% de Wall Street: guru só fala com elite de hedge funds

Andrea Wong

16/09/2016 15h18

(Bloomberg) -- Jens Nordvig, um dos profissionais com a bola de cristal mais cobiçada do mundo das finanças, vende segredos para ganhar dinheiro a quem pagar US$ 30 mil por ano.

Mas para ter acesso às melhores ideias dele e ao toque pessoal que os hedge funds endinheirados apreciam, o preço é 20 vezes maior.

Essa abordagem dupla para pesquisas que, pelo menos oficialmente, estão fora do alcance dos bancos de Wall Street reflete uma das mudanças mais impressionantes no ramo atualmente: a ascensão de um sistema de classes no qual alguns negócios atendem apenas clientes que pagam muito.

É claro que o universo das finanças sempre incluiu quem tem pouco e quem tem muito. Mas a distância cada vez maior em Wall Street entre o que obtêm os privilegiados e o que o resto obtém está criando uma nova elite financeira: o 1% do 1%.

Quem não faz parte do 0,01% pode então prestar serviço para esse grupo.

"Ou os investidores obtêm assessoria personalizada de alguém em que realmente confiam ou recorrem a ferramentas de dados, bons robôs --e o preço dessas duas opções é diferente", explicou Nordvig em entrevista em seu escritório compartilhado da franquia WeWork, próximo ao histórico edifício Flatiron, em Manhattan.

Para o dinamarquês de 42 anos --que saiu da Nomura Holdings em janeiro após cinco anos sendo considerado o melhor estrategista de câmbio de Wall Street--, isso significa alavancar sua posição para erguer a própria empresa, a Exante Data, em torno de um grupo seleto dos maiores nomes em hedge funds e do dinheiro que dispõem.

De acordo com investidores e pessoas com conhecimento da situação, a Exante tem entre seus clientes a Key Square, fundada por um protegido de George Soros chamado Scott Bessent, e a Graticule, firma de Adam Levinson que foi desmembrada da Fortress Investment Group e tem sede em Cingapura. A Graticule não retornou pedidos de comentário da reportagem.

Nordvig preferiu não identificar firmas específicas, mas diz que são só "cinco a sete" grandes instituições, que pagaram o suficiente para cobrir a maior parte do custo de abrir a empresa dele. Por princípio, ele não está aceitando novos clientes. Enquanto os seis funcionários da Exante estão focados no lançamento de produto analítico, Nordvig dedica a maior parte do tempo à limitada clientela.

Ele está em contato com os clientes praticamente todo dia e fica disponível 24 horas por telefone ou mensagem. As pesquisas dele são personalizadas para atender às necessidades individuais de cada um e Nordvig diz que é comum passar horas com uma firma debatendo estratégias de operação e política macroeconômica.

No fim de julho, ele ficou até meia-noite defendendo sua teoria ousada junto a um hedge fund cliente da Ásia de que o Banco do Japão iria manter tudo igual em vez de anunciar o conjunto de medidas de estímulos que todo mundo esperava. Ele convenceu a firma a não ficar descoberta em ienes, o que se provou uma decisão correta porque a moeda japonesa disparou após o não evento da autoridade monetária.

"Nos bancos, é produção em massa. É Target versus Hermès", disse o dinamarquês, comparando a rede de supermercados dos EUA à marca de luxo.

Por enquanto, seus clientes gostam do que veem.