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Venda de cadeira reservada vai salvar salas de cinema nos EUA?

Kyle Stock

28/09/2016 16h20

(Bloomberg) -- Stan Meyers só vai ao cinema com duas condições: tem que ser uma sala IMAX e ele precisa poder reservar uma cadeira em uma das duas últimas fileiras.

“As cadeiras ideais são mais elevadas do que se imagina, porque a tela é muito alta”, explicou ele. “Se não houver essa disponibilidade, eu simplesmente não vou”.

Meyers, que analisa operadoras de salas de cinema na Piper Jaffray & Co., sabe melhor do que ninguém que está cada vez mais fácil reservar uma cadeira em um cinema dos EUA. O resto da população vai descobrir isso em breve. Todas as grandes operadoras do ramo no país estão acrescentando regularmente essa opção em dezenas de milhares de salas, na tentativa de afastar as pessoas de aparelhos de TV cada vez mais impressionantes e do enorme universo em expansão do streaming de vídeo.

“É um jogo difícil e eles estão fazendo experiências”, disse Meyers. “Daqui a cinco anos, creio que será possível reservar lugar em 50 por cento das salas.”

Até o momento, quem mais implantou essa opção foi a AMC Entertainment. O público pode reservar lugares em quase um terço dos cerca de 400 cinemas da empresa nos EUA. Neste mês, a possibilidade de reserva foi oferecida em todas as oito unidades de Manhattan. A companhia entende que essa opção será um pré-requisito em todos os seus cinemas no “médio prazo”.

Para qualquer um que já tenha comprado uma cadeira numerada no estádio de futebol ou uma passagem aérea, os assentos reservados nos cinemas equivalem ao videocassete como novidade. A escolha de lugares é padrão há muito tempo nos cinemas da Europa e da China. Mas as operadoras de salas dos EUA vinham fugindo disso por motivos válidos: sai caro e é difícil definir um modelo.

Então por que a pressa repentina para permitir que os americanos escolham onde sentar?

Os jovens adultos, por exemplo, estão ficando em casa. De 2010 a 2015, americanos de 18 a 39 anos compraram 16 por cento dos ingressos de cinema. Essas pessoas geralmente estão ocupadas com a carreira profissional e com os filhos e não querem perder 45 minutos esperando na fila. Contratar uma babá não é barato e dá para assistir a Game of Thrones, série do canal HBO, à la carte por US$ 15 mensais.

Outro grande motivo para a reserva de lugares: Hollywood depende cada vez mais dos grandes sucessos. Os estúdios e as salas de cinema atualmente geram parcela maior da receita com um número menor de filmes. Em 2014, os dez maiores filmes responderam por 26 por cento da bilheteria. Neste ano, os dez campeões garantiram 39 por cento das vendas de ingressos, de acordo com a Bloomberg Intelligence.

As reservas são apenas parte de uma grande renovação do setor cinematográfico dos EUA. Proprietários de salas de cinema estão trocando cadeiras tradicionais por poltronas grandes, substituindo as telas comuns por IMAX e 3D e adicionado opções mais sofisticadas (leia-se: mais rentáveis) de alimentação. “Ir ao cinema antes era uma experiência genérica. Agora, o foco é mudar isso e fazer com que seja uma experiência aprimorada”, disse Meyers.

Título em inglês: Can Selling Saved Seats Save Movie Theaters?

Para entrar em contato com o repórter: Kyle Stock em N York, kstock6@bloomberg.net, Para entrar em contato com os editores responsáveis: Telma Marotto tmarotto1@bloomberg.net, Patricia Xavier

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