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Spotify enfrenta dilema no Japão, onde CD é preferência

Yuji Nakamura

29/09/2016 15h17

(Bloomberg) -- Em uma tarde quente e úmida, Shintaro Naganuma se juntou às centenas de consumidores que procuravam CDs na loja de oito andares da rede Tsutaya no centro de Tóquio.

Após descobrir duas bandas de rock no YouTube, o universitário de 21 anos foi atrás dos álbuns na principal loja da Tsutaya, no estiloso bairro Shibuya. Este processo resume o dilema enfrentado pelo presidente do Spotify, Daniel Ek, que comandou na quinta-feira a tão esperada chegada do serviço de streaming de música ao segundo maior mercado fonográfico do mundo.

Por um lado, os consumidores do país se acostumaram a encontrar músicas ou a ouvi-las casualmente nos smartphones, o que deveria ajudar a empresa sueca a conquistar usuários para seu serviço gratuito financiado por propagandas. Mas na hora de abrir a carteira, a maioria dos japoneses continua comprando CDs e até mesmo LPs. Principalmente porque as gravadoras continuam cautelosas para conceder suas músicas aos serviços de streaming.

Até mesmo a Apple e o serviço de mensagens Line, que lançaram serviços pagos de streaming no ano passado, ainda não conseguiram deslanchar, em parte por causa da oferta limitada de músicas. Como resultado, as vendas de mídias físicas continuam dominando o mercado e representaram 84 por cento das vendas do setor no ano passado, comparado a 39 por cento globalmente.

"As gravadoras detestam conceder músicas gratuitamente, então o estoque inicial do Spotify pode ser ainda pior que o do Line Music ou do Apple Music", disse Mikiro Enomoto, comentarista musical que ensina Cultura Popular na Universidade Kyoto Seika. "Esses serviços de streaming provavelmente têm apenas cerca de metade das músicas das paradas da Oricon", disse ele, referindo-se ao ranking das mais ouvidas no Japão.

Essa situação também se revelou no evento de lançamento do Spotify, no qual os executivos evitaram mencionar acordos com gravadoras ou artistas japoneses de peso. A companhia não aceitou perguntas da imprensa e um porta-voz sugeriu que os jornalistas procurassem no aplicativo quais artistas estão disponíveis. Menos de metade dos artistas no ranking Top 10 de álbuns de 2015 da Oricon -- incluindo os jovens rapazes da banda Arashi e os ícones nacionais da Mr. Children -- estava no serviço até a tarde de quinta-feira.

A possibilidade de o Japão recuperar a antiga liderança no setor de música digital pode depender de quantos usuários o Spotify conseguirá atrair para seu serviço gratuito e de quantos deles decidirão pagar para se livrar das propagandas. Mundialmente, dos seus 100 milhões de usuários, a empresa conseguiu convencer 40 milhões a pagar US$ 10 por mês para escutar música sem as propagandas. No Japão, Enomoto estima que a taxa de conversão será menor, cerca de 20 por cento.

Isso poderia contribuir com o nascente setor de streaming no Japão e ajudar a convencer mais gravadoras a assinar contratos. Até lá, o Spotify pode ter dificuldade para conquistar os amantes da música, como Shuhei Yamamoto, 23 anos, que compra discos na loja da HMV Group em Shibuya para aumentar sua coleção de mais de 150 vinis. Ter acesso às 40 milhões de músicas do Spotify não é muito atraente, a menos que sejam o que ele quer escutar.

"Seja pago ou gratuito, prefiro gastar meu tempo e meu dinheiro em um álbum que eu realmente quero ouvir."