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Costa do Marfim destrói florestas tropicais por cacau

Olivier Monnier

17/10/2016 11h58

(Bloomberg) -- Depois que uma doença arrasou sua plantação de cacau, Philippe Zongo entrou em uma das últimas florestas tropicais restantes da África Ocidental para desmatar e abrir novas terras cultiváveis.

Assim como milhares de homens jovens da Costa do Marfim e de países vizinhos mais áridos, Zongo partiu para encontrar o melhor solo para plantar novos cacaueiros. Ele o encontrou na floresta de Cavally, no oeste do país, área maior que Chicago, onde chimpanzés vivem sob a copa de árvores de 30 metros de altura.

"Quando cheguei à floresta, o primeiro que fiz foi desmatar", disse Zongo, de 23 anos. "Queimei o que pude e cortei o que não pude queimar."

Esse é o cenário que define a história moderna da Costa do Marfim, país que é o maior produtor de cacau do mundo: as árvores são cortadas para madeira, a terra é limpa para agricultura e gradualmente o solo vai se tornando estéril. O Ministério das Florestas estima que cerca de 80% das florestas do país desapareceram desde os anos 1970. O replantio foi considerado desnecessário: o cacau não precisa de sombra para crescer.

Menos chuvas

O cacau, o café e o azeite de dendê impulsionam o crescimento da Costa do Marfim desde antes de sua independência da França, em 1960, transformando o país em modelo de estabilidade econômica na África.

A Costa do Marfim exportou 1,8 milhão de toneladas de sementes de cacau na safra que terminou no ano passado, pico histórico que há uma década os analistas do setor diziam que era inalcançável. Mas o crescimento veio a um custo alto: o país recebe menos chuvas e tem um solo cada vez mais pobre em nutrientes, disse a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, na sigla em inglês) em relatório ambiental de 2012.

Durante décadas o governo incentivou e até ajudou os marfinenses e os imigrantes estrangeiros a conseguirem acesso a terras, política cimentada pela frase de 1963 de Félix Houphouët-Boigny, que comandou o país por um longo período, de que "a terra pertence àqueles que a desenvolvem".

Hoje a mensagem mudou. O governo do presidente Alassane Ouattara prometeu expulsar as pessoas de seus parques e florestas protegidos e duplicar a cobertura florestal restante até 2020, disse o ministro da Água e das Florestas, Louis-André Dacoury-Tabley, em entrevista em Abidjan, a capital comercial do país.

"Percebemos que nos dirigimos para a desertificação", disse ele. "Precisamos das nossas florestas para ter chuva, para conseguir respirar." Em julho, guardas florestais começaram a demolir assentamentos ilegais e a cortar plantações de cacau não autorizadas no Parque Nacional Mont Peko, nas proximidades.

Contudo, a destruição continua a um ritmo frenético. A Costa do Marfim tem a taxa de desmatamento mais elevada da África, acelerada por um conflito de 10 anos que minou o Estado de Direito e fez os guardas florestais enfrentarem rebeldes ou ex-soldados que se apropriaram de áreas protegidas e começaram a distribuir lotes de florestas em troca de "impostos" ilícitos.

Mesmo com o fim do conflito, em 2011, algumas florestas da parte oeste da Costa do Marfim ainda são controladas por grupos armados.

Zongo está contando com a significativa primeira colheita desta temporada. As cerca de 2 toneladas de sementes renderão a ele US$ 3.000. Enquanto mostrava as plantações na terra antes ocupada por uma floresta verde, densa e úmida, ele refletiu sobre as ordens do governo para desocupar a área.

"Tem muita gente aqui, muita mesmo", disse ele. "Nós queremos ficar."