Lições sobre flutuação livre da moeda para o Egito
(Bloomberg) -- Se o Egito pode aprender alguma coisa dos mercados emergentes que abandonaram o controle de suas moedas, é que um enfoque relutante está destinado a fracassar.
O Egito se transformou nesta quinta-feira no último país em desenvolvimento a anunciar uma flutuação livre nos últimos dois anos, desencadeando um recuo de 45 por cento na libra egípcia, para 16 por dólar, segundo cotações de seis bancos, entre eles o Commercial International Bank Egypt. O sucesso da medida para combater a contração do dólar e acabar com o mercado negro vai depender do grau de compromisso do banco central a não intervir quando começarem a ocorrer oscilações cambiais.
Se a experiência de países como a Rússia e a Argentina servir de exemplo, os problemas iniciais terão valido a pena após um ano, segundo David Hauner, estrategista do Bank of America. Uma moeda mais fraca não apenas torna as exportações egípcias mais competitivas, como também aumenta o atrativo do país para turistas e diminui a pressão sobre o banco central para que reduza suas reservas, que vêm caindo desde a Primavera Árabe.
"Qualquer coisa no meio, em particular qualquer paridade cambial que tenha pouca credibilidade devido à falta de reservas e esteja longe de uma cotação justa, é uma opção ruim", disse Hauner, de Londres. "Este ajuste nunca é fácil. Há claramente um período em que as coisas ficam piores, mas quando se analisa a experiência dos países que adotaram uma flutuação livre se comprova que ela traz benefícios."
A seguir, um resumo da experiência da Rússia e da Argentina.
Rússia
O que aconteceu? A presidente do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, abandonou as intervenções cambiais em novembro de 2014, quando o país estava lutando contra sanções e em meio a uma queda forte no preço do petróleo, seu principal produto de exportação. O rublo, que se recuperou neste ano, ainda registra uma desvalorização de 32 por cento.
Foi eficaz? Dois anos depois, a volatilidade implícita do rublo em três meses caiu para níveis vistos pela última vez antes da adoção da flutuação livre, as expectativas em relação à inflação estão diminuindo, os fluxos líquidos de saída de capital diminuíram e Nabiullina tem sido elogiada e considerada a autoridade monetária mais ortodoxa da Europa. E o que é mais importante, as famílias perderam o interesse pelas oscilações cambiais e mantêm 60 por cento de suas economias em rublos, segundo uma pesquisa publicada em agosto.
Argentina
O que aconteceu? Em 17 de dezembro de 2015, o presidente Mauricio Macri eliminou um tipo de câmbio móvel que permitia uma desvalorização gradual do peso. Foi uma das medidas de uma reforma econômica visando a atrair investimentos e dar impulso a uma economia que tinha um crescimento anêmico e escassez de dólares.
Foi eficaz? A moeda recuou 27 por cento em seu primeiro dia de liberdade, mas desde então a depreciação diminuiu e a inflação está dando sinais de ceder. A volatilidade histórica do peso em três meses caiu para um dos patamares mais baixos na América Latina. Os investidores mostraram uma confiança renovada no país neste ano absorvendo o recorde de US$ 33 bilhões em vendas de títulos internacionais e as operações no mercado negro para comprar dólares, uma prática generalizada antes da flutuação livre, se tornou menos comum.
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