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Vitória impensável de Trump estimula insatisfação americana

Mike Dorning

09/11/2016 11h24

(Bloomberg) -- Para muitos americanos, aconteceu o impensável.

Seu novo líder é um homem que nunca havia se candidatado a um cargo público, que demitiu gente em uma sala de diretoria de um reality de televisão, que se gaba de assediar mulheres, que promete prender sua principal adversária política e que, em breve, terá acesso ao arsenal nuclear dos EUA.

Seis de cada dez americanos nem gostam de Donald Trump. Mas o número que importou na eleição foi este: dois terços dos eleitores disseram que os EUA estavam no caminho errado.

Para muitas dessas pessoas, Trump é exatamente o presidente que elas desejam, o presidente de que, segundo acreditam, o país precisa desesperadamente. Que não está vinculado às convenções de Washington, ao que é politicamente correto. Que não tem medo de usar o poder americano para confrontar países menores. E, acima de tudo, que não é Hillary Clinton.

Ela foi uma candidata profundamente impopular, um símbolo do status quo político.

Trump foi cortês com Hillary e fez um apelo à unidade em seu discurso de vitória na madrugada de quarta-feira.

"Agora é hora de que os EUA fechem as feridas da divisão. Precisamos nos unir", disse Trump aos apoiadores reunidos no Hilton do Midtown de Nova York. "Está na hora de que nos juntemos como um povo unido. Está na hora."

A agenda de Trump é drástica e sem rodeios, um tônico para endireitar um país desencaminhado, aos olhos de seus eleitores: Construir um muro. Deportar imigrantes ilegais. Proibir a imigração oriunda de muitos países muçulmanos. Renegociar ou abandonar acordos comerciais. Obrigar os países da Otan a pagar mais por sua própria defesa. Fazer com que os EUA sejam grande novamente.

Ele não mencionou nada disso no discurso de vitória, prometendo se concentrar em reconstruir a infraestrutura dos EUA. "Vamos colocar milhões de pessoas para trabalhar", disse ele.

Onda de populismo

A vitória de Trump é uma versão americana do populismo nacionalista que surgiu na Europa e alimentou a insatisfação por trás da decisão do Reino Unido, em referendo, de sair da União Europeia. Só que agora essa onda atravessou o Atlântico, culminando no país mais poderoso do mundo.

Embora existam evidências de que a economia dos EUA tenha se recuperado da Grande Recessão, muitos eleitores consideraram que o progresso foi lento demais e que sua própria perspectiva financeira era incerta demais. Em pesquisas de boca de urna na terça-feira, os eleitores citaram a economia e os empregos como o principal problema, com 52%, seguidos por terrorismo com 18%, política externa com 13% e imigração com 12%, de acordo com a ABC News.

O calendário legislativo de Trump para seus 100 primeiros dias no cargo inclui uma enorme redução tributária, a anulação do Obamacare e o começo das obras para a construção de um muro na fronteira com o México.