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Análise: Tempo mais curto para o Brasil arrumar a casa

Josué Leonel

17/11/2016 15h20

(Bloomberg) -- Embora o Banco Central tenha conseguido reduzir a pressão no câmbio, o saldo para o Brasil com a eleição de Trump nos EUA continua negativo.

O dólar mudou de patamar, o espaço para o BC cortar os juros se estreitou e o otimismo com o crescimento em 2017 diminuiu, o que torna ainda mais urgente para o governo e o Congresso aprovarem as reformas fiscais.

"A complacência do mercado com um ajuste fiscal gradual pode acabar", diz o economista-chefe do Citibank no Brasil, Marcelo Kfoury. Com a economia se expandindo menos, a receita do governo também deve crescer com menos vigor do que o imaginado, diz Kfoury.

Com isso, o ajuste fiscal deve ser mais lento, o que vai coincidir justamente com um momento de maior aversão ao risco nos mercados.

O Citi já estava com uma previsão menos otimista do que a mediana do mercado para o PIB, estimando um crescimento de 0,6% em 2017, ante 1,1% apontado pelos economistas da pesquisa Focus do BC.

A tendência é que esta projeção do mercado, que já caiu um pouco na última pesquisa, recue mais nas próximas semanas diante do estresse financeiro causado pela inesperada eleição de Trump nos EUA.

Nas contas do Citi, caso o patamar do dólar, que passou de R$ 3,20 para R$ 3,40 com a eleição de Trump, se firme, o impacto sobre a inflação será de 0,36 ponto percentual.

Com isso, o IPCA projetado no cenário de referência do BC poderia passar de 4,4% para 4,8%, ou seja, voltando a ficar acima da meta de 4,5%. "Diminuiu o espaço para uma política monetária mais frouxa", diz Kfoury.

O economista ainda vê espaço para corte da Selic, mas em ritmo e magnitude menores. Nem no próximo Copom nem em janeiro o BC deverá acelerar o corte para 0,50 pp.

A taxa no final de 2017, que antes o Citi estimava em 10,5%, agora é prevista em 11,25%. Da mesma forma, deve ficar mais distante o horizonte para o Brasil voltar a contar com juro de um dígito.

Nas próximas semanas, o mercado estará às vésperas da posse de Trump, cujos planos de expansão fiscal são um fator potencial de pressão para a inflação e os juros nos EUA, o que amplia os riscos para os países emergentes. Nesta ambiente de incerteza, o mais provável é que o BC brasileiro evite mudar o ritmo de corte da Selic, diz Kfoury.

Trump ainda pode afetar a economia global, e também o Brasil, caso coloque em prática seu discurso de campanha contra acordos comerciais.

Políticas protecionistas prejudicariam um comércio mundial que já estava"débil" antes da eleição de Trump, dificultando a recuperação das exportações brasileiras, diz Kfoury.

Além do mais, completa o economista, o "espírito animal" necessário para a volta dos investimentos estaria enfraquecido pelo aumento das incertezas. "O tempo que o Brasil tem para se ajustar pode ficar mais curto."