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Opep pode revigorar concorrência com ou sem acordo

Javier Blas

28/11/2016 14h28

(Bloomberg) -- O acordo da Opep para reduzir a produção de petróleo e acabar com anos de excesso de oferta no mundo está em jogo com a reunião desta semana. Contudo, mesmo se os ministros conseguirem chegar a um acordo significativo na quarta-feira, ainda haverá perigo para o grupo de exportadores de petróleo.

Durante dois anos a Organização de Países Exportadores de Petróleo tentou acabar com um exército cada vez maior de novos produtores inundando os mercados com petróleo bruto. Uma inversão da tática poderia ser uma tábua da salvação para os sobreviventes agredidos como a Premier Oil, que estão correndo para colher as recompensas.

A companhia listada em Londres, cuja produção de 60.000 barris diários equivale a um erro de arredondamento segundo a Opep, projeta utilizar hedges para garantir preços de pelo menos US$ 50 por barril em 2017, nível que o Brent atingiu apenas brevemente neste ano. Isso significa que a Premier Oil conseguiu se adaptar bastante bem ao ataque e foi capaz de chegar a um equilíbrio financeiro com preços que são a metade dos que obteve no mercado de futuros em 2015.

Rivais

O grupo de produtores de petróleo quer criar uma faixa de "Goldilocks", entre US$ 50 a US$ 60, "suficientemente alta para aumentar a receita dos países produtores de petróleo em problemas, mas não muito alta, para não desencadear uma nova onda de produção no setor de xisto dos EUA", disse Walid Khadduri, analista da Opep no Arab Gulf States Institute em Washington.

Mas mesmo no extremo inferior da faixa de preços, de US$ 50 o barril, empresas maltratadas como a Premier, listada em Londres, mostraram que podem sobreviver.

A redução de custos e os avanços tecnológicos diminuíram em um terço, para US$ 53 o barril, o preço médio necessário para uma empresa americana atingir o equilíbrio financeiro desde 2014, disse Esther George, presidente do Federal Reserve de Kansas City, EUA, na semana passada, em uma conferência sobre energia em Houston, EUA.

Nos últimos dois anos, a Exxon Mobil, a Royal Dutch Shell e a maioria dos outros gigantes globais vêm recortando custos e reduzindo a escala de projetos de longo prazo. Mas se os preços subirem o suficiente, projetos multibilionários de longa duração poderiam finalmente ser aprovados, disse Martijn Rats, analista do Morgan Stanley em Londres.

Mesmo assim, a Opep ainda pode reivindicar certo sucesso na campanha para prejudicar rivais grandes e pequenas. O colapso dos preços desmantelou o boom do xisto americano, pelo menos temporariamente, e obrigou as empresas a adiarem cerca de US$ 1 trilhão em projetos novos no mundo inteiro, o que talvez possa provocar uma falha na oferta na próxima década.

Mas as políticas da Opep agora são equivocadas, segundo Ali Al-Naimi, o ex-ministro do Petróleo da Arábia Saudita que planejou a política de bombear à vontade adotada pelo grupo dois anos atrás. Tentar elevar os preços só vai provocar perdas de participação no mercado, portanto a Opep deveria sair do meio do caminho e deixar o capitalismo seguir seu curso, disse Al-Naimi em "Out of the Desert", seu novo livro de memórias.

"Foi - e é - um simples caso de deixar o mercado funcionar", disse Al-Naimi.