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BC da Rússia se junta a clube das projeções futuras para juros

Anna Andrianova

29/11/2016 14h40

(Bloomberg) -- Quando os bancos centrais começam a fazer projeções sobre suas decisões futuras, a realidade costuma mostrar seu senso de humor.

Comandantes do Banco da Inglaterra (Mark Carney) e do Federal Reserve (Janet Yellen) sentiram isso na pele há pouco tempo. Suas tentativas de informar como as taxas de juros vão evoluir no futuro (procedimento que ficou conhecido como "forward guidance") trouxeram mais confusão do que clareza quando a economia obrigou as autoridades a mudarem os planos.

Isso não impediu a presidente do Banco da Rússia, Elvira Nabiullina, de lançar sua versão própria de projeção neste ano. Está funcionando ? até certo ponto.

Após sua promessa sem precedentes em setembro de que não cortaria mais os juros até o fim de 2016, apesar da fraqueza da economia, os economistas imediatamente baixaram as previsões de inflação para perto da meta de 4%.

Agora, os economistas estimam que a inflação em 12 meses estará em 4,6% no fim de 2017, de acordo com pesquisa da Bloomberg, comparado com 5,2% na sondagem de agosto. No entanto, a expectativa ainda é de inflação acima da meta. Após dois anos de recessão, a previsão é que o crescimento voltará timidamente no ano que vem. Representantes do banco central estão confiantes no impacto da promessa.

"A reação a nossa projeção futura em setembro ficou dentro das nossas expectativas", afirmou por e-mail a primeira vice-presidente da instituição, Ksenia Yudaeva. "De modo geral, a tendência declinante das expectativas de inflação é atrelada à queda da inflação de fato e ao aumento da confiança do mercado de que alcançaremos a meta de 4 por cento até o fim de 2017."

Contudo, oscilações bruscas na cotação do petróleo, o principal produto de exportação da Rússia, podem atrapalhar os planos de Nabiullina. Além disso, o banco central já causou confusão no passado, como quando cortou os juros inesperadamente em 2015, apenas seis semanas depois de ter subido a taxa.

A meta de inflação foi ultrapassada em 2015 pelo quarto ano consecutivo. Para o fim deste ano, a autoridade monetária prevê recuo da inflação para 5,5%, comparado a pouco mais de 6% atualmente.

A população russa tem na memória recente inflação anual na casa de 17%. Portanto, convencer o público em geral de que a inflação ficará baixa e estável tem sido mais difícil do que convencer os mercados.

"O 'forward guidance' é uma faca de dois gumes, especialmente para os mercados emergentes", disse o economista Wolf-Fabian Hungerland, do Berenberg Bank, em Hamburgo, na Alemanha. "Com sua promessa recente, o Banco da Rússia talvez já tenha dado um passo maior do que as pernas, a nosso ver. Não esperamos que o banco central torne sua trajetória mais severa, muito pelo contrário Se há um motivo para o banco central ter sido tão bem sucedido nos últimos anos foi porque se mostrou flexível."