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Dívida de Portugal ofusca estabilidade e prejudica notas do país

Joao Lima

30/11/2016 14h21

(Bloomberg) -- A série de boas notícias de Portugal não está recebendo muitas atenções dos investidores.

O primeiro-ministro António Costa acabou de obter aprovação do Parlamento para seu segundo orçamento, a economia está melhorando e o país se destaca como um farol de estabilidade em meio à turbulência provocada pelo Brexit, pelo referendo da Itália que poderá derrubar o governo e pela ascensão do populismo.

Apesar de tudo isso, os investidores não estão demonstrando nenhum amor pelos títulos de Portugal, e os papéis foram pegos pela queda forte mundial da renda fixa depois da eleição de Donald Trump.

"As notícias internas de fato foram boas, mas houve um acontecimento maior, que foi a eleição de Trump e o aumento dos rendimentos dos EUA", disse Diogo Teixeira, CEO da Optimize Investment Partners, firma com sede em Lisboa que administra cerca de 125 milhões de euros (US$ 132 milhões).

O fato de Portugal continuar profundamente endividado não ajudou, disse ele. "Se analisarmos mais profundamente, a estrutura do endividamento não mudou. A boa notícia virá quando tivermos uma inversão do nível de endividamento."

Mesmo com as compras de dívida do Banco Central Europeu, Portugal é o mercado de títulos soberanos da zona do euro com o pior desempenho neste ano até terça-feira, de acordo com Bloomberg World Bond Indexes. Os títulos do país perderam 3 por cento, o que é mais que as perdas da Itália e se compara com ganhos em outros lugares do bloco.

Os investidores apontam para o fato de que embora Portugal tenha muito a oferecer, muitos de seus problemas subjacentes persistem. O país saiu de seu programa de resgate internacional de três anos em 2014, mas continua lidando com problemas como empréstimos de liquidação duvidosa nos bancos.

Apesar de o crescimento ter acelerado no terceiro trimestre, o governo reduziu sua perspectiva econômica quando apresentou o orçamento para 2017 em outubro e afirmou que a taxa de endividamento será mais alta que o previsto anteriormente.

Rendimentos

Os títulos de Portugal com vencimento em 10 anos rendem 3,7%, mais que os 2,4% registrados no início de janeiro de 2015, mês em que o presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou seu programa de flexibilização quantitativa (QE, na sigla em inglês). O pico de 18% foi registrado em 2012 no auge da crise de dívida da zona do euro. A diferença de rendimento com a Alemanha aumentou para 3,5 pontos percentuais.

"Precisamos estar preparados para um aumento contínuo dos rendimentos", disse Teixeira, da Optimize. "No fim de 2017, podemos ter rendimentos acima de 1% nas notas da Alemanha com vencimento em 10 anos e acima de 4% nas nos títulos de Portugal com vencimento em 10 anos."

A cerca de 232 bilhões de euros, a dívida de Portugal equivale a 129% do PIB --a terceira mais alta da zona do euro, atrás de Grécia e Itália.