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Zimbábue espera saída de Mugabe com economia destruída

Mike Cohen

02/12/2016 15h52Atualizada em 02/12/2016 16h44

(Bloomberg) -- Sentado atrás do balcão de uma barraca em ruínas, Edgar Garwe, preocupado com a falta de clientes, conserta celulares enquanto se pergunta como vai pagar a matrícula da escola de seus dois filhos.

"Estamos só esperando", disse Garwe, 31, em entrevista na cidade de Mvurwi, ao norte de Harare, a capital do Zimbábue, onde em uma semana boa ele conserta três ou quatro celulares. "Tudo vai melhorar quando ele tiver ido embora."

"Ele" é Robert Mugabe, líder do Zimbábue desde a independência do Reino Unido em 1980 e causa de um colapso econômico que, segundo estimativas, deixou 95 por cento da força de trabalho sem emprego e provocou o exílio de cerca de 3 milhões de pessoas. Embora o partido governante, a União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF, na sigla em inglês) insista em dizer que Mugabe será candidato na próxima eleição presidencial, em 2018, cada vez mais pessoas acreditam que o governo do homem de 92 anos está chegando ao fim.

À medida que a era Mugabe atinge seu crepúsculo, o Zimbábue enfrenta um aumento da pobreza e dos protestos. Uma luta pelo poder no partido governante opõe uma facção que apoia a esposa de Mugabe, Grace, contra outra reunida em torno do vice-presidente Emmerson Mnangagwa, ex-chefe de espionagem. Ao mesmo tempo, a tensão está se propagando devido à escassez de alimentos e a uma falta de dinheiro que atrasou o pagamento de salários e levou o banco central a emitir notas de títulos atrelados ao dólar que os zimbabueanos batizaram imediatamente de "moeda zumbi".

Pária

Mugabe, um ex-professor, passou 11 anos preso por lutar contra o domínio da minoria branca. Nos primeiros tempos, foi aclamado por promover a reconciliação racial e melhorar a saúde e a educação. Atualmente, para muitos países do Ocidente Robert Mugabe é um pária e o acusam de fraude eleitoral, de uma violenta campanha de repressão contra a oposição e de arruinar a economia permitindo a confiscação de estabelecimentos rurais comerciais de brancos para serem distribuídos a agricultores de subsistência negros, o que cortou a renda obtida com exportações.

A oposição ao governo de Mugabe tem sido alimentada por uma pobreza generalizada, pelo desemprego, pelo colapso dos serviços básicos e por uma força policial abusiva. A pior seca em duas décadas piorou a depressão e cerca de 4 milhões de pessoas, mais de um quarto da população do Zimbábue, precisam de alimento urgentemente.

Oposição unida

O descontentamento está fortalecendo o atrativo dos partidos opositores, que estão avaliando se unir para disputar a votação de 2018.

Os principais adversários de Mugabe são o Movimento para Mudança Democrática, de Morgan Tsvangirai, e o Povo Zimbabueano Primeiro, dirigido por Joice Mujuru, que foi vice-presidente entre 2004 e 2014 e foi expulsa do Zanu-PF dois anos atrás, após ter sido afastada da disputa pela sucessão.

"A vida não pode melhorar enquanto o velho não sair da State House, então o país está esperando ele sair", disse Garwe. "Ninguém pode expulsá-lo, ninguém tem esse poder. Quando ele tiver ido embora, vamos poder começar a consertar o estrago."