BC intervém após dólar bater R$ 6,30, e moeda cai pela 1ª vez em uma semana
O dólar interrompeu nesta quinta-feira (19) a sequência de cinco altas consecutivas e fechou o dia em queda de 2,32%, vendido a R$ 6,122. A baixa foi influenciada pela atuação do BC (Banco Central), que fez duas vendas da moeda americana. A segunda, de US$ 5 bilhões, ocorreu logo depois de ela encostar em R$ 6,30, maior cotação nominal intradiária desde o início do Plano Real.
O que está acontecendo
Dólar comercial passou a cair depois de atingir recorde nominal. Após abrir o dia em nova valorização, a moeda dos EUA chegou a atingir a marca de R$ 6,2955, às 10h11, mesmo após o leilão de US$ 3 bilhões promovido pelo BC. O patamar não foi sustentado, com a desvalorização persistente da moeda depois das 10h22 em meio a uma nova intervenção.
Primeira queda do dólar desde a quarta-feira da semana passada (11) foi intensificada ao final da manhã. O tombo foi iniciado às 10h50, logo após um novo leilão extraordinário do BC, e fez a moeda norte-americana recuar de R$ 6,245 para R$ 6,159 em 15 minutos. Nos momentos seguintes do pregão, a cotação da divisa passou a apresentar variações mais contidas e permaneceu em baixa pelo resto do pregão.
Desvalorização do dólar foi ampliada ao longo da tarde. A tendência após a maior oferta à vista da moeda norte-americana da história fez a queda da divisa ante o real superar 2% às 14h45. A baixa foi ampliada na sequência da sessão, com o menor valor do dia, de R$ 6,105, atingido por volta das 15h43.
Dólar turismo também abriu a quinta-feira em alta e recuou. A cotação da divisa destinada aos viajantes apresentou variação positiva de 0,58% na abertura dos negócios. Após as 11h04, houve a inversão dos sinais e a cotação também passou a operar em queda. Ao final do pregão, a divisa era negociada a R$ 6,368 (-1,68%).
Ofertas de dólares ocorreram em dois momentos do pregão. O primeiro leilão, previamente comunicado, foi realizado logo na abertura da sessão e injetou US$ 3 bilhões na economia. Pouco depois de o dólar bater o maior cotação intradia da história, a autoridade monetária vendeu mais US$ 5 bilhões das reservas internacionais no mercado à vista.
Leilões de dólares do BC aumentaram a intervenção para US$ 20,7 bilhões. No entanto, até a semana passada, o BC havia feito apenas uma intervenção desde o início do governo Lula. Para especialistas de mercado, atuar só agora, só aumenta o medo dos investidores e sinaliza para o mercado que o pior ainda está por vir, criando uma corrida por dólares.
O principal motivo da desvalorização do real na véspera foi a desidratação do pacote de gastos que vem acontecendo no Congresso. Na noite de quarta (18). Os deputados, por exemplo, pedem que a inclusão do trecho que prevê que o bloqueio de até 15% das emendas só valerá para as verbas não impositivas.
Declarações do presidente da Câmara contribuem para recuo do dólar nesta quinta. Segundo a gerente de research da Nomad, Paula Zogbi, a manifestação de Arthur Lira (PP-AL) favorável ao teto de gastos apoiou o BC na tentativa de segurar a cotação do dólar. "Antes da fala de Lira, o dólar recuava sem apoio de outros ativos domésticos, com o estresse sendo sentido nos juros, o que reforça que a indicação de uma postura mais cooperativa em torno do pacote fiscal é fator essencial para diminuir o sentimento de aversão a risco", diz.
Mesmo que a efetividade das medidas em si tenha sido recebida com desconfiança pelo mercado, pouco comprometimento em aprová-las seria um sinal ainda mais negativo do ponto de vista da saúde fiscal do país, e aumentaria as possibilidades de um ambiente mais negativo por mais tempo.
Paula Zogbi, gerente de research da Nomad
Bolsa
Bolsa B3 operou em alta durante todo pregão. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, fechou o dia em alta de 0,34%, aos 121.187 pontos.
Movimento reflete correção após tombo de 3,15% da véspera. Idean Alves, planejador financeiro e especialista em mercado de capitais, atribui a valorização do Ibovespa a um movimento de "repique". "A forte queda do dia de ontem abriu oportunidades", avalia. Ainda assim, ele observa um cenário distante da tranquilidade aos acionistas.
Ações da Automob (AMOB3) saltaram 34%. Estreante na Bolsa, a empresa liderou os ganhos no pregão desta quinta (19), com os papéis negociados a R$ 0,47.
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