Dólar a R$ 6,16: entenda por que a moeda americana bate recordes

O dólar comercial chegou a seu maior valor da história na última segunda-feira (16), ao atingir R$ 6,09. Nesta terça-feira, durante dia, chegou a ser cotado a R$ 6,20 e nesta quarta-feira (18) já foi cotado a R$ 6,16. E a pergunta que fica é: por que a moeda norte-americana está subindo tanto mesmo com o Banco Central fazendo leilão de dólares?

Fatores para a alta

Junção de fatores justifica a desvalorização do real. De acordo com Ahmed El Khatib, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), não há apenas uma causa para a subida do dólar e, sim, uma combinação de fatores.

Gastos do governo e sustentabilidade das contas públicas preocupam agentes do mercado. "A falta de anúncios significativos sobre cortes de gastos pelo governo tem gerado desconfiança entre investidores. As alterações nas metas fiscais, que reacenderam temores sobre a sustentabilidade das contas públicas, são um dos principais fatores que impulsionaram o dólar", explica Khatib.

Juros nos Estados Unidos impactam economia brasileira. Como explica o professor, "no cenário externo, o Federal Reserve, dos EUA, sinalizou que os cortes nas taxas de juros poderiam ser mais lentos do que o esperado, impactando negativamente as moedas emergentes, incluindo o real. Por fim, o Brasil está enfrentando um déficit crescente em suas contas externas, que atingiu 2,07% do PIB, o que aumenta a pressão sobre a moeda local", explicou.

A resistência do câmbio em voltar para a ser cotado abaixo dos R$ 6 reflete a deterioração nas expectativas com relação à economia brasileira após os anúncios dos ajustes nas despesas e propostas de reforma no Imposto de Renda. Isto fica claro nas últimas edições do Boletim Focus que apresentam revisões expressivas nos principais indicadores.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad

Para conter a alta da moeda americana, muitas vezes, o Banco Central entra em ação e vende dólares. No entanto, as iniciativas têm sido limitadas, como explica o professor da Fecap:

Embora o BC utilize instrumentos como swaps cambiais e ajustes na taxa de juros para tentar estabilizar a moeda, as intervenções não têm conseguido conter a alta do dólar de forma consistente. O regime de câmbio flutuante adotado pelo Brasil permite que as cotações oscilem livremente, sem metas fixas estabelecidas pelo BC. Além disso, a falta de uma resposta clara e rápida às condições do mercado tem dificultado o controle efetivo da taxa de câmbio.
Ahmed El Khatib, professor da Fecap

Volatilidade do câmbio e saída de capital estrangeiro. Beto Saadia, diretor de investimento da empresa Nomos, destaca que iniciativa do Banco Central "é mais para reduzir a volatilidade do câmbio e para atender fluxos de saída de capital estrangeiro, que não tem só a ver com o risco fiscal, tem a ver com empresas americanas enviando de volta seus lucros e dividendos, e também empresas brasileiras precisando pagar contratos de serviços, perto de encerrar o ano fiscal, esses movimentos são mais exacerbados".

A alta do dólar deve impactar a vida dos brasileiros. "As consequências podem demorar um pouco, mas a inflação é um movimento óbvio. Especificamente, a inflação de alimentos é o que a população mais deverá sentir nos próximos meses. Além disso, tem o preço dos bens industriais, que mesmo sendo produzidos aqui, têm componentes importados", finalizou Saadia.

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