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Como membro da família Fasano construiu um império gastronômico

Blake Schmidt

13/12/2016 13h23

(Bloomberg) -- "Eu nunca quis ter um restaurante", diz Rogério Fasano, à mesa de seu restaurante, o Gero, no elegante bairro dos Jardins, em São Paulo. "Nunca. Mas então meu pai perdeu tudo em muito pouco tempo."

O pai de Rogério, o empresário Fabrizio Fasano, fez fortuna nos anos 1970 ao deixar de lado a tradição familiar de restaurantes para vender seu blend de uísque Old Eight.

Mesmo assim, ele estava descontente e por isso decidiu apostar em um novo blend secreto --reforçado com peróxido de hidrogênio para acelerar o processo de envelhecimento. Um uísque de três anos de repente ganhava o gosto de um 12 anos.

Somente depois de 2 milhões de caixas terem sido vendidas e de os anúncios para a Copa do Mundo estarem contratados, as coisas ficaram claras como vodca. Os clientes enviaram a bebida de volta aos montes.

Rogério Fasano herdou as dívidas do pai. Quando os negócios da família entraram em colapso, ele abandonou a escola de cinema em Londres para voltar ao Brasil e restaurar o nome da família no negócio pelo qual ela era conhecida há gerações: comida.

Hoje, o nome da família é um ícone cultural de bilionários, fashionistas, socialites e artistas dessa megalópole, muitos deles, como Fasano, de ascendência italiana. Ele comanda um império crescente de 15 restaurantes e quatro hotéis, incluindo um no Rio de Janeiro com uma piscina de borda infinita repleta de celebridades e vista para a praia de Ipanema, outro no Uruguai com campo de golfe Arnold Palmer e praia privada e um novo em Miami Beach, que apresenta o modernismo brilhante do arquiteto Isay Weinfeld. A revista Veja o classificou como o homem por trás da maior marca gastronômica de São Paulo -- afirmação importante tratando-se da capital da comida do Hemisfério Sul.

Quando nos encontramos para almoçar no Gero, Fasano estava esperando no bar tomando um pinot grigio de sua nova linha de vinhos italianos com a marca Fasano. Momentos depois de nos sentarmos, ele se levantou para conversar com o chef. O novo macarrão cabelo de anjo importado da Itália disparou seu radar para o alho. Como muitos imigrantes italianos de São Paulo, a família Fasano é originária do norte da Itália, onde, segundo ele, os cozinheiros usam o aromático com moderação.

"Eu sinto o alho por todo lado", disse, ao voltar. "A única forma de cozinhar é não usar alho nunca. Não compre nunca."

Banqueiros, executivos e magnatas de toda a região acabam atraídos para cá, onde são atendidos por uma equipe meticulosa de funcionários. "Rogério me disse para transformar esse lugar no meu escritório no Brasil", diz Ricardo Bellino, recostando-se no lounge do hotel. O empresário de São Paulo fez seu nome agenciando modelos antes de se associar a Donald Trump em um resort de golfe brasileiro que nunca saiu do papel.

Mas Fasano também está fazendo incursões além dos clientes da elite que seu negócio conquistou em um dos países mais desiguais do mundo -- mesmo que isso ocorra com alguma dissonância cognitiva em uma cidade tão nitidamente dividida por classes. Emicida, um dos rappers mais venerados da periferia da cidade, fez recentemente uma apresentação no bar Baretto do Hotel Fasano para uma plateia que havia deixado despreocupadamente seus carros de luxo com os manobristas.

O investidor em casas noturnas Arnaldo Waligora, para citar um, agradece à família Fasano por "nos trazer um mínimo de dignidade e civilidade nesse maldito caos de inelegância e exasperações miseráveis".